'Tarja branca' e a necessidade de brincar para existir
Uma das músicas mais conhecidas do grupo Palavra Cantada, entoa que “Criança não trabalha, criança dá trabalho”. Diversos estudos (e a mais importante de todas, a observação do comportamento dos pequenos) comprovam a importância das brincadeiras para o desenvolvimento infantil, tanto intelectual quanto interpessoal. E na corda bamba que é essa transição entre a infância e a vida adulta e sua corrida por sucesso na carreira e vida pessoal, vamos nos embrutecendo e acinzentando com as durezas do cotidiano.
A tecnologia nos consome e distancia de nossa natureza que exige o contato humano, natural e necessário, como explana uma das pesquisadoras entrevistadas para compor o documentário “Tarja Branca”, “a gente nasceu pra ser gente”. Isso mesmo. Porque brincar é existir. É sentir-se vivo. Lançado em junho de 2014 nos cinemas e com a mesma equipe que produziu o pontual “Muito Além do Peso”, o documentário investiga e instiga a importância da brincadeira, tanto para o uso lúdico na vida, quanto no âmbito social e de enfrentamento de crises e questionamentos humanos, todos esses processos que nos fazem crescer.
A fala de profissionais especializados na infância é costurada com as memórias e experiências de pessoas como Marcelino Freire, escritor pernambucano, que para escrever, também precisa manter acesa a liberdade de imaginar, descontruir e inventar histórias e personagens.
Para a coreógrafa Andrea Jabor, “brincar é urgente”, e cada vez mais necessário numa sociedade rodeada por tecnologia e certa deficiência imaginativa, onde as brincadeiras não precisam ser inventadas, pois já estão disponíveis em lojas. Como resultado das convenções sociais, certamente a maioria de nós escolheu não dar trabalho. E seguimos um monótono processo onde o tempo encurtou e as exigências da máquina do trabalho aumentaram, diminuindo nosso espaço e pensar lúdico. Perdemos nossos trava-línguas, ganhamos o receio de pintar objetos com cores diferentes das conhecidas e, principalmente, deixamos para trás nossa liberdade de existir dentro da nossa imaginação.
Afinal, a brincadeira não precisa estar ligada ao ambiente infantil, mas pode compartilhar de suas vivências, aprendizados e desprendimentos. O quanto se aprende levando a vida de uma maneira um pouco menos ansiosa ou com pequenos exercícios para não levar tudo tão a sério? Brincar é o remédio que falta para que nossas gavetas e caixas de primeiros socorros permaneçam quietas.
O filme está disponível no youtube, através do canal da produtora Maria Farinha Filmes.
Fonte: Obvius