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A função do amor... - E. E. Cummings

Enviado por Gilberto Godoy
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     "A função do amor é fabricar desconhecimento (o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar) embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se importar se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela o medo tem morte menor;  E viverá menos quando a morte acabar) que afortunados são os amantes (cujos seres se submetem ao que esteja para ser descoberto) cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver (que riem e choram)que sonham,criam e matam enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta: pode não ser sempre assim;e eu digo que se os teus lábios,que amei,tocarem os de outro,e os teus ternos fortes dedos aprisionarem o seu coração,como o meu não há muito tempo;

     Se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar naquele silêncio que conheço,ou naquelas grandiosas contorcidas palavras que,dizendo demasiado, permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;

     Se assim for,eu digo se assim for tu do meu coração,manda-me um recado; para que possa ir até ele,e tomar as suas mãos, dizendo,Aceita toda a felicidade de mim. E então voltarei o rosto,e ouvirei um pássaro cantar terrivelmente longe nas terras perdidas."


     Quem foi este autor?

     Edward Estlin Cummings, usualmente abreviado como e. e. cummings, em minúsculas, como ele assinava e publicava, (Cambridge, Massachusetts, 14 de outubro de 1894 — North Conway, Nova Hampshire, 3 de setembro de 1962) foi poeta, pintor, ensaísta e dramaturgo americano. Tendo sido, principalmente, poeta, é considerado por Augusto de Campos um dos principais inovadores da linguagem da poesia e da literatura no século XX.
 
     Cummings é conhecido do grande público pelo estilo não usual utilizado na maior parte de seus poemas, que incluem o uso não ortodoxo tanto das letras maiúsculas e minúsculas quanto da pontuação, com as quais, inesperadamente, de forma aparentemente errônea, para o leitor desavisado a ponto de não compreender a essência da própria linguagem verbal tal como captada pelo poeta, é capaz de interromper uma frase, ou mesmo palavras individualmente; explora fonemas individuais para chegar ao "microritmo". Desta forma, alguém poderia criticar o poeta como um "poeta para poetas", ou seja, um poeta que exige a leitura de um especialista. Após alguns esforços, porém, seus poemas mais inusuais são de leitura bastante simples e fluente. Muitos de seus poemas possuem, também, uma distribuição tipográfica não-linear. Através desta distribuição não-usual, aliada aos recursos anteriormente citados, é possível perceber de que forma a linguagem verbal se forma a partir do nosso inconsciente, resultando, porém, em um texto altamente objetivo, ao mesmo tempo que expressivo.
 
     O primeiro livro de cummings é publicado em 1923, quando o Surrealismo começa a delinear-se como a vanguarda predominante. Preocupados basicamente em desenvolver uma revolução do conteúdo, os surrealistas se afastam da revolução estrutural das primeiras décadas do século XX. Cummings, no entanto, segue em outra direção, aprofundando o legado destas últimas de forma mais "construtivista", tal como o fizeram o cubismo e Kurt Schwitters.
 
     Ainda assim, nos anos seguintes cummings teve muita dificuldade em atingir publicação de seus poemas, sofrendo os seus poemas mais inovadores muita rejeição nos EUA, mesmo de críticos que o admiravam em parte, como T.S. Eliot. A partir da década de 1950 começa, de forma gradual, a reabilitação do poeta, tendo, possivelmente, sido influenciada pela movimento da poesia concreta, que obteve grande repercussão mundial e o citava como um dos seus precursores.
 
     Apesar da afinidade de cummings com as antigas vanguardas "positivas" do início do século XX e de sua tipografia não usual, parte de seu trabalho é mais tradicional, em verso livre ou poesia em prosa, apresentando, inclusive, poemas em formato de soneto. Seus poemas com frequência tem como pano de fundo o amor e a natureza. Muitos exploram como tema, de forma irônica, o relacionamento do indivíduo com as massas e com o mundo, a crítica aos sistemas político e econômico ocidentais, o conservadorismo (principalmente político) e ao progresso meramente tecnológico.
 
     Durante sua vida ele publicou mais de 900 poemas, duas novelas, diversos ensaios e também inúmeros desenhos, sketches e pinturas. É lembrado como uma das vozes mais importantes da literatura do século XX.
 
     Entre outros elogios, Ezra Pound disse que não houve na história nenhum tradutor melhor de Catulo para o inglês, o que necessitaria, naturalmente, grande habilidade poética.

Comentários

  • por: Fabiana Oliveira em terça-feira, 20 de novembro de 2012
    Nascemos do amor, vivemos para o amor, sofremos pelo amor, e ainda, somos capazes de morrer pelo amor. O que seríamos de nós, de nossa vida, sem ele? Excelente texto Gil. Aliás, consulto seu blog, quase todos os dias.Rs...Pois sei que sempre haverá algo interessante para ler e consultar. Abs, Fabi.

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  •    O título parece complicado, mas não é. Metáforas são figuras de linguagem que substituem uma coisa por outra. São indispensáveis na expressão da vida. Por exemplo: o coração, que é um órgão do corpo humano passível de cirurgia, palpitação e substituição, é uma metáfora do amor...   (continua)


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