A Geopolítica das Olimpíadas - Theófilo Silva
É por intermédio de Hamlet, o príncipe filósofo, que Shakespeare diz o que pensa de nós: “Que obra-prima é o homem! Como é nobre pela razão. Como é infinito em faculdades. Em forma e movimentos, como é expressivo e maravilhoso. Nas ações, como se parece como um anjo. Na inteligência, como se parece com um deus. A maravilha do mundo. Protótipo dos animais!” Nenhuma outra realização humana expressa com tanta força e exatidão esse pensamento do que as Olimpíadas.
Foi isso mesmo que vimos durante esses dezessete dias, em que pessoas superdotadas expressaram o talento para o mundo. Da extrema beleza e destreza das mocinhas da ginástica rítmica e do nado sincronizado; da rapidez de Michael Phelps e Usain Bolt; da elegância dos cavaleiros Doda e Rodrigo Pessoa; da força bruta dos eslavos no levantamento de peso; ou dos trabalhos de equipe do Basquete, Volei, Handeball etc... Vimos maravilhados o quanto o homem é capaz de fazer poesia com seu próprio corpo.
Resgatando um evento protagonizado pelos sublimes gregos há mais de vinte séculos, os homens trouxeram até nós uma atividade que apresentasse nossa capacidade de testar nossos limites físicos e psicológicos: os Jogos Olímpicos. A cada edição dos jogos, limites são superados, recordes são quebrados e um maior número de povos e nações participam, transformando o gigantesco evento esportivo numa festa em que todas as divisões étnicas e religiosas, sociais e políticas são superadas, tornando-nos uma única entidade: seres humanos. Nenhum outro evento é tão importante para discutir a geopolítica mundial do que as Olimpíadas.
Todas as nações dão o melhor de si para mostrarem sua força, engenhosidade, orgulho e capacidade de realização. Verdadeiras guerras são travadas entre potências e minúsculas nações pelo lugar mais alto no pódio, ou por uma medalha de prata ou bronze. Vence sempre o melhor, nem que seja por centésimos de segundo. Atletas e superatletas se enfrentam dando o melhor de si para por uma medalha de ouro no peito, para que a bandeira de seu país seja colocada no lugar mais alto, enquanto houve o hino de sua pátria em meio a lágrimas, sorrisos e aplausos.
Os britânicos realizaram uma festa belíssima na cidade de Londres. Nenhum incidente foi registrado, e toda a competição ocorreu em perfeita harmonia. Grandes duelos se sucederam, em que as duas superpotências EUA e China disputaram aguerridamente quem ganharia mais medalhas. Os americanos venceram, dando o troco a China, que foi a vencedora nos jogos passados. Os britânicos ficaram em terceiro lugar,ultrapassando a poderosa Rússia.
Muitas nações surpreenderam positivamente, e outras desapontaram. Como surpresa, podemos apontar a pequena Jamaica e as nações africanas pobres com seus grandes velocistas. A África e o Caribe foram gigantes no atletismo. Tendo as ilhas de Granada, Trinidad Tobago e Bahamas subido o pódio. Como decepção, tivemos “los hermanos”, os argentinos, com apenas quatro medalhas, e nosso “pai” Portugal, com uma Prata. O Chile e a riquíssima Áustria vergonhosamente nada ganharam. Uma grata surpresa foi a Colômbia com oito medalhas.
Quanto a nós, brasileiros, não decepcionamos, mas também não brilhamos. Muito embora, tenhamos gasto dois bilhões de reais, ou seja, não faltou dinheiro – parte desse dinheiro deve ter sido roubada – tivemos uma participação modesta. As fragilidades dos nossos atletas foram expostas, desnudadas e identificadas.
Somos os próximos anfitriões dos jogos. Nesse momento em que o país arranca para tornar-se potência, eis a oportunidade de mostrar que estamos prontos para sê-lo, e nenhum outro evento pode ser uma vitrine maior do que os Jogos Olímpicos. A hora do Brasil acontecer parece ter chegado. Acho que acordamos. Vamos fazer os exames finais e entrar no jogo pra valer. É o que todos esperamos!
Theófilo Silva é autor do livro A Paixão Segundo Shakespeare