A incrível história da Alemanha - Theófilo Silva
Durante quase mil anos, desde Carlos Magno, que reinou sobre franceses e alemães, a Alemanha foi um aglomerado de cidades-estado, sendo a guardiã, até o fim do século XVIII, de Sacro Império Romano Germânico. Ainda no século XVII, temeroso da engenhosidade alemã, o Cardeal Richelieu, estadista da França, engendrou uma diplomacia política de anulação da Alemanha – jogando um estado contra o outro – impedindo sua união, para que eles não ameaçassem a soberania francesa.
Em 1789, uma revolução na França derrubou o modelo político vigente parindo um guerreiro que aterrorizaria a Europa por dezesseis anos, Napoleão Bonaparte. Napoleão humilhava os orgulhosos príncipes germânicos, fazendo-os se ajoelharem à sua passagem. O medo e o ódio da França aos alemães iriam gerar uma nação de guerreiros que iria apavorar o mundo.
Com a derrota do “ogro”, Napoleão, o Congresso de Viena, que restaurou a ordem europeia, em 1815, os Estados alemães ficaram reduzidos a 29 unidades, sendo o maior deles a Prússia, e do outro lado, a poderosa Áustria, dos Habsburgos. Os dois lutavam para ver quem conseguiria unificar em torno de si os povos de língua germânica. A Prússia venceu. Em 1870, Oto Von Bismarck, com uma diplomacia brutal, sob o lema “ferro e sangue”, aceitou as provocações de Napoleão III e derrotou, de forma humilhante a França na guerra Franco Prussiana, juntando finalmente os estados alemães, sem a Áustria, coroando Guilherme I imperador da Alemanha unificada.
Enfim, unidos, enriqueceram rápido, porque “o destino da Alemanha é governar o mundo”. Em quarenta anos, em 1911, sua riqueza já rivalizava com a da Inglaterra. Na chamada “Belle époque” a Alemanha tornou-se uma superpotência, e considerando-se “pronta para dominar o mundo”, provocou uma guerra mundial em 1914. Resultado: foi derrotada e humilhada. Seguiu-se uma crise tão violenta, que o dinheiro era usado como lenha. Os arrogantes alemães morriam de fome, se suicidavam ou emigravam.
De forma impressionante, eles se recuperaram imediatamente, a chamada República de Weimar deu 10 belíssimos anos a nação. No entanto, o peso das dívidas de guerra, aliada à crise mundial de 1929, destruíram sua economia novamente, e o caos dominou o país. Nasceu daí uma serpente que iria criar o regime mais criminoso e brutal que já governou uma sociedade evoluída no mundo moderno: o regime nazista de Adolf Hitler, que transformou os teutônicos em bestas assassinas. Em 1939 – recuperada e rica – Hitler voltou a carga provocando a Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez foi esmagada, após ter provocado a morte de quase 70 milhões de pessoas. Em oito de maio de 1945, a Alemanha era uma pilha de escombros, oito milhões de alemães estavam mortos, outros milhões mutilados, não havia comida, casas, igrejas, estradas, energia elétrica, água encanada, represas, pontes, fábricas, hospitais, governo, nem honra. O Império alemão, prometido por Adolf Hitler, que duraria mil anos, só durou doze. Um criminoso nazista resumiu assim os crimes da Alemanha: “Mil anos passarão, e a culpa da Alemanha não será apagada”.
Dividida, ocupada, fatiada em duas – durante 30 anos um Muro dividiu a Alemanha – sendo uma zona menor controlada pela União Soviética, que não prosperou. Na outra zona independente, chamada Alemanha Ocidental, a riqueza voltou, mais uma vez rapidamente. Em 1954, a Alemanha Ocidental estava reconstruída, rica, importando trabalhadores europeus.
A capacidade de trabalho, e de recuperação, dessa nação de pensadores, juristas, músicos, cientistas e engenheiros nos deram homens extraordinários: Bach, Beethoven, Savigny, Max Weber, Kant, Hegel, Einstein e muitos outros gênios universais. Dona de um parque industrial invejável a Alemanha foi durante o século XX a maior importadora e exportadora de bens de todo o mundo. Hoje é a segunda.
Com o nascimento da união Europeia – criada por temor ao poderio alemão – a Alemanha e a França fizeram as pazes, reunindo em torno delas quase todo o continente europeu, com a poderosa Inglaterra incluída, mas desconfiada. Hoje, quando a União Europeia enfrenta uma das maiores crises que a Europa já passou em tempos de paz, a Alemanha é uma ilha de prosperidade, completamente imune à crise.
É impressionante, mas os teutônicos estão dando as cartas novamente. Talvez seja a hora da Alemanha expiar seus pecados, se é que inocentes devem pagar pelos crimes de seus pais. Essa capacidade descomunal de trabalho e organização, que nenhum outro povo tem, a exceção do Japão, deve ser usada pelo bem da Europa. Que os sonhos de grandeza da Alemanha sustentem a harmonia da Europa, que ela tanto magoou. Dessa vez, de forma pacífica e generosa. Assim, fica claro que a Alemanha, como nós seres humanos, encontrou o seu destino – destino que ela sempre procurou.