Perseguido pelas autoridades de seu país natal, a Prússia, por causa de seus ataques ao governo, o panfletário Karl Marx mudou-se para a França. Lá, deu continuidade a atividades revolucionárias, com seus panfletos e jornais. Acabou expulso. Procurou refúgio na Bélgica, mas não conseguiu se estabelecer, em virtude da pressão prussiana sobre o governo belga. Ele ainda tentou a França mais uma vez, e não deu certo. Voltou a Prússia, mas foi expulso novamente.
Seus amigos o mandaram para a Inglaterra, o único país europeu que não o perseguiria por suas ideias. Muito embora, os alemães tenham pressionado fortemente os ingleses para que o expulsassem. Mas as leis inglesas nunca permitiram. De dentro da Biblioteca de Londres, Marx escreveu seu livro O Capital, que iria mudar completamente o destino da humanidade. A Inglaterra, o país que Marx viveu por 34 anos, e criou sua família, era o berço do capitalismo, o sistema que ele denunciou como injusto e que trabalhou cada dia da vida para destruir.
Quando perguntaram a Ho Chi Minh, o líder vietnamita, se ele não invejava Gandhi, o arquiteto da independência da Índia, por ter conseguido se libertar da Inglaterra, respondeu: “o senhor Gandhi é uma homem de muita sorte, por ter lutado contra os ingleses. Se fosse contra a França, ele e todos seus companheiros estariam enforcados”.
Estou assustado com o nível de ignorância da discussão sobre a prisão domiciliar do Hacker australiano Julian Assange. O que tenho lido, mesmo de jornalistas ditos de renome, é um completo desconhecimento de História, e de como funciona o sistema legal inglês, o mais perfeito e justo do mundo. Um país, onde julgamentos politizados jamais ocorreriam.
O antiamericanismo cego de alguns está imputando a Inglaterra, a grande aliada dos EUA, um crime que ela não cometeu e não cometerá: o de prender Julian Assange e enviá-lo aos EUA para ser morto. Simplesmente, por que não existe nenhum processo legal aberto contra Julian Assange nos EUA. A Inglaterra está cumprindo uma ordem judicial oriunda da Suécia, talvez a democracia mais respeitada do mundo. Mesmo o mais empedernido dos anarquistas sabe que a Suécia é uma nação justa.
O judiciário inglês não dará um salvo conduto a Assange para que ele saia do país, porque primeiro ele terá que ir a Suécia e se submeter a um julgamento e provar que não fez sexo forçado com as duas voluntárias do Wikileaks. Os desinformados estão espalhando que se trata de uma retaliação dos EUA por ele ter divulgado documentos secretos. Isso é uma mentira.
O presidente do Equador, ao conceder asilo político para Assange, está tendo seus quinze minutos de publicidade, já que até agora ninguém sabia onde ficava o Equador. Esses minutos de fama poderão lhe render alguns votos, já que sua popularidade anda baixa, mas não tirarão Assange de sua aflição. Quando o Equador diz que está brigando contra o Império americano, a Suécia e a Grã-Bretanha, temos vontade rir.
A Inglaterra tem a opinião publica mais ativa do mundo, e um sistema legal que coloca a liberdade individual e os direitos humanos acima de qualquer instituição, que chega a ser prejudiciais a ela mesma, tal sua liberalidade. A Inglaterra sempre foi refúgio para revolucionários do mundo todo. Marx e toda turma da Comuna de Paris encontraram refúgio em Londres após serem perseguidos em toda a Europa.
O hacker Julian Assange – hackers são a praga da modernidade – terá que enfrentar um processo legal na Suécia, e não corre nenhum risco de vida ou a sua integridade física. Tudo será feito dentro da lei. Se a Suécia pediu sua extradição, ele será extraditado. Mandá-lo para o Equador é contrariar a ordem do poder judiciário inglês. Se há cento e sessenta anos a Inglaterra deu refúgio a Karl Marx, o pai de todos os revolucionários, deixou Gandhi libertar seu país sem guerra, não é um mimado riquinho que posa de defensor dos fracos e oprimidos pelos EUA, que ela vai deixar de proteger. O ódio aos americanos está imputando a duas das sociedades mais justas do planeta um crime que não cometeram.
Assim, Julian Assange, o playboy “gostosão”, que posa de revolucionário, junto a um bando de tolos, terá de se submeter a um julgamento justo na Suécia e provar perante os juízes que não abusou sexualmente daquelas mulheres. É isso! Seus problemas com os EUA serão discutidos em outro momento e em outras instâncias.
Theófilo Silva é autor do livro A Paixão Segundo Shakespeare