A piscada de Ayrton Senna
O fotógrafo Evandro Teixeira registrou algumas das passagens mais importantes da história política latino-americana do século XX. Na chegada do General Castello Branco ao Forte de Copacabana (1964), na Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro (1968) e na queda do regime de Salvador Allende, no Chile (1973), lá estava ele, empunhando sua máquina fotográfica. Na área esportiva, cobriu Olimpíadas e Copas do Mundo e eternizou momentos clássicos, como o encontro do Rei do Futebol, Pelé, com a Rainha da Inglaterra, Elizabeth II, em 1968.
No dia 26 de março de 1989, data em que foi destacado para a cobertura do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, no entanto, perseguia uma imagem que faltava em seu portfólio. Intrigava Teixeira as piscadas que o piloto brasileiro Ayrton Senna dava ao chefe da McLaren Ron Dennis antes das corridas. Motivava-o captar o instante em que o brasileiro afirmava, com os olhos, que estava pronto para correr – e vencer as corridas de Fórmula 1.
“A maneira com que ele piscava para o Ron Dennis antes das corridas, que significava ‘estou pronto para largar’, me intrigava”, afirma Teixeira, em entrevista ao Brasil Post. “Ficava pensando: ‘por que ele pisca assim?’”.
Registrar tal imagem não era fácil. Nos idos dos anos 80, a tecnologia das máquinas fotográficas era muito aquém ao da era digital, onde uma sequência de fotos pode, facilmente, captar uma piscada de olhos. Em 1989, registrar a piscada de Senna a Ron Dennis, à distância, era uma tarefa complicada, mesmo para um profissional do quilate de Teixeira.
“Eu amava o Senna e queria, de qualquer maneira registrar aquilo. Pensava: ‘tenho que pegar este momento’. Naquele dia, eu consegui”, celebra. “Quando eu fiz a foto, senti que tinha conseguido, mas pensei: ‘vamos esperar a revelação para ter certeza que deu certo’”, completa o fotógrafo, que trabalhava no Jornal do Brasil, publicação onde ingressou em 1963 e permaneceu por toda a carreira.
A certeza do triunfo se deu quando viu a foto revelada. “Na redação do Jornal do Brasil, quando a foto foi revelada, quase morri de alegria, foi uma felicidade tremenda”, lembra o fotógrafo. Mesmo com um portfólio tão relevante, o autor doclique mais famoso de Senna, enche a boca para exaltar a foto: “Fazer aquela foto, foi algo maravilhoso, histórico, para mim”.
Para Teixeira, o que faz da foto especial, além do fato de ela ter rodado o mundo, ligando, para sempre, o nome do piloto ao do fotógrafo, foi o pioneirismo do registro. “Aquela tomada foi uma das primeiras, senão a primeira, a mostrar um piloto de Fórmula 1 em close, no cockpit, nos boxes, e não na pista”.
Na data em que se completam 20 anos da morte do eterno ídolo do esporte brasileiro, o fotógrafo celebra o nome do piloto. “Senna foi e é um ícone no Brasil e no mundo. Ele era o número um. Ter meu nome ligado ao seu é uma glória para mim".
Fonte: Brasilpost Esportes