A Tragédia de Eike Batista, Rei do Brasil - Theófilo Silva
Interessante reler este artigo publicado pelo escritor Theófilo Silva no blog Shakespeare Indignado em 2012. Merece um artigo atual.
Fazia muito tempo que eu queria escrever sobre Eike Batista, outrora o homem mais rico do Brasil e, segundo ele, o futuro homem mais rico do mundo. Sempre vi Eike como um personagem das tragédias de Shakespeare. Principalmente de Hamlet, Júlio César e Tímon de Atenas. Eu sabia que Eike logo encontraria seu destino, dando-me motivos para escrever sobre isso. A hora chegou mais cedo do que eu pensava. Simplesmente porque Eike sucumbiu, faliu, quebrou, foi à bancarrota e está endividado. Trata-se do primeiro bilionário da história da humanidade que ficou pobre – milionários quebram, bilionários não. Na verdade, Eike não tem mais nada. Só dívidas. A constatação foi feita pela prestigiosa revista Forbes.
A EBX (Eike Batista X), a holding de seus negócios, foi despejada por falta de pagamento de aluguel, e 90% dos empregados foram demitidos; todas as outras “X”, petrolífera, mineradora etc, quebraram, dando calote em acionistas e investidores; as outras dezenas de negócios foram usados para tapar os gigantescos buracos dessas empresas; seu conglomerado sofreu uma metástase; Eike passou a vender seus bens de luxo: aviões (ele tinha três) pela metade do preço, helicóptero, casas, iates. Os credores estão em cima dele procurando salvar o que investiram. A megalomania de Eike causou a ruína de milhares de pessoas e empresas em todo o mundo.
Nunca acreditei nos bilhões de Eike. Nunca achei que ele tivesse mais dinheiro do que seu oposto, o sempre queixoso e humilde, Antônio Ermíro de Morais, bilionário de pés fincados no chão de cimento e alumínio de suas indústrias. Tudo que havia em Eike não passava de uma bolha, de especulação, que ele utilizou para enganar os tolos, nessa ciranda internacional de dinheiro, principalmente americano, que dizia que o Brasil dos BRIC’s, estava fazendo milionários. O que não era exatamente uma mentira. Mas não com o aloprado Eike.
A primeira menção ao nome de Eike Batista chegou a mim por uma nota de jornal uns 25 anos atrás. Dizia que o ricaço Eike Batista deixara sua noiva, uma moça de uma família paulista quatrocentona, esperando-o no altar, enquanto fazia estripulias com a modelo Luma de Oliveira, fato que provocou grande escândalo na sociedade paulista. Depois veio seu casamento com Luma, a mulher mais desejada do Brasil, capa da revista Playboy quatro vezes. Em seguida, Luma apareceu usando uma coleira com o nome Eike bordado, em desfile no Carnaval carioca. Depois vieram seus dois filhos, a quem deu o nome de deuses nórdicos (da mitologia escandinava) Thor e Olin.
Eike é filho de mãe alemã, e o pai, Eliézer Batista, é ex-presidente da companhia mineradora estatal Vale do Rio Doce, a maior do mundo. Com a privatização da empresa, Eike “herdou” do pai todos os mapas de jazidas minerais da Vale espalhadas pelo país. O caminho para ficar milionário ficou bem mais fácil. Daí, Eike fundou sua própria mineradora – todas ostentando um “X” no nome, e foi enriquecendo. Tornou-se milionário, multimilionário, bilionário – virou capa da Veja, por ter ganhado 20 bilhões de dólares em um ano – e homem mais rico do Brasil, com uma fortuna de assustadores 38 bilhões de dólares.
Logo virou o homem mais badalado país, e um modelo a ser seguido por todos. A Forbes apontou-o como um dos dez homens mais ricos do mundo. Coisa que desdenhou, pois, segundo ele, em breve seria o número 1, com uma fortuna de 100 bilhões de dólares. Fico imaginando o quanto Jorge Paulo Lehman, Ermírio, Safra, Sicupira e outros bilionários brasileiros devem ter rido disso.
O histórico de Eike sempre foi o de um homem arrogante, convencido – por que não o seria? Um boçal, no sentido vulgar do termo. Todas as suas fotos denotam ar de desprezo. Sua desgraça começou quando ele se meteu com o negócio mais difícil do mundo: petróleo. O ouro negro, o negócio dos infernos, o líquido que move o planeta, e que é motivo de guerras desde o século XIX. Foi aí que Eike mostrou que não tinha tutano para tanto. E veio o colapso!
Eike é hoje motivo de chacota em todo o mundo. Eike passou a atribuir seu fracasso a configurações astrais, alinhamento de saturno. Pois é, essa desculpa está prevista em Júlio César, de Shakespeare, quando Cassius diz: “A culpa, meu caro Brutus, não está nas estrelas, mas dentro de nós mesmos que consentimos em ser covardes”. Portanto, como o fantasma do rei Hamlet, Eike “está condenado durante certo tempo a vagar pela noite e, durante o dia, a jejuar nas chamas”. Espero que não faça como Tímon, e vá morar na floresta. Os gregos diziam que “Antes de nos destruírem, os deuses, primeiro, nos transformam em arrogantes”. Estavam certos!