Caetano Veloso está senil - Theófilo Silva
Confesso que a foto de Caetano Veloso usando uma máscara do movimento dos violentos e brutais Black Blocs teve em mim o efeito de um soco na cara, desses que os Black Blocs costumam dar nas pessoas, nas ruas. Caetano Veloso, um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, ícone de gerações, um dos grandes formadores de opinião do país, septuagenário, pai e avô foi à delegacia do Rio de Janeiro defender trogloditas mascarados, cuja única ideologia é a violência pura e simples.
Que Caetano é dado a tolices, não é novidade: faz declarações estapafúrdias, já deu entrevistas completamente nu, passou uma fase beijando na boca de todo mundo que via, posa de escritor... Em resumo, de vez em quando faz bobagem. Já estamos acostumados com isso. Mas, dessa vez o Baiano foi longe demais. Tenho certeza que ele não tem ideia da gravidade do que fez. Também não sei se ele fez isso a pedido dos filhos, porque fumou um baseado, trocou o chá de ervas, “tomou uma”, não sei. O que sei é que Caetano agrediu o povo brasileiro, seus fãs, nos quais eu me incluo, de uma forma muito violenta.
Que maneira triste de envelhecer. Caetano é um dos raros artistas, cantor e compositor que tem sabido se “atualizar”, comunicar-se com as novas gerações. Nesses quase cinquenta anos de carreira, atravessando três gerações da música brasileira, ele tem conseguido manter um diálogo com os talentos que vão surgindo, o que permite não ser chamado pelos novos de “velho”. Ele está sempre lançando novos cantores e cantoras e trabalhando junto com eles, o que lhe permite esse convívio e diálogo com as novas gerações.
Caetano cometeu essa barbaridade em nome do desejo de estar antenado com o que pensa e faz a juventude. Ele mesmo já declarou que não consegue ver suas fotos recentes, pois não quer se ver como “um velho”. Não tenho dúvida do que estou dizendo. Essa sua foto, mascarado como se fosse um terrorista – em defesa de um grupo de criminosos, que estão presos previamente pela justiça – com manifestações no twitter, e em seus perfis na internet, foi uma tentativa, um tiro que saiu pela culatra, de Caetano conectar-se com a juventude. Uma juventude que não consegue mais vê-lo. Até porque a Tropicália já passou. Se foi, com os anos sessenta.
Caetano não sabe e não quer envelhecer. O que não é um defeito dele, quase ninguém quer envelhecer. O nordestino, baiano, pequeno, magrelo, feioso, assanhado, mas genial que encantou três gerações de brasileiros, que fez canções que se tornaram hinos, que contam parte da história do Brasil, como Alegria Alegria, Sampa, Shy Moon e várias outras, quer repetir Tolstói, Ezra Pound, Oscar Wilde – gênios muitos maiores que ele – e abraçar a loucura. Como também fez o Rei Lear, de Shakespeare. Mas Lear tinha motivos para ficar louco. Caetano, não!
Confesso que não espero coerência de “estrelas”. Muitos são dados a esquisitices. Basta ver que no manifesto de “23 artistas” que Caetano levou para o secretário de segurança do Rio, defendendo os bandidos, está o compositor Chico Buarque, gigante da geração musical de Caetano.
Caetano disse que a polícia tem que ver os vândalos mascarados como se estivéssemos no carnaval. Esquecendo que estamos no Sete de Setembro, o dia da pátria, uma data que celebra a alegria de ser brasileiro. Assim são o 14 de julho na França ou o 4 de julho nos Estados Unidos. Na mesma hora em que Caetano defendia essa súcia, eles estavam depredando o tribunal de justiça, onde três membros da quadrilha tinham sido presos. A extrema violência dos marginais está registrada em vídeo. Mas Caetano nem se deu ao cuidado de assistir.
Caetano, aos 71 anos, pôs uma máscara de bandido para dizer que se vê como um desses jovens que adotam a violência como forma de protestar contra a injustiça. Algo que ele não fez quando era realmente jovem, pelo contrário agiu de forma pacífica e sábia, embalando nossos sonhos com suas belas mensagens e canções, em uma época realmente injusta, em que até mesmo a violência se justificava. Hoje, não.
O Brasil é um país injusto e é preciso protestar contra isso. Caetano quer permanecer jovem, mas não sabe como. Prefiro o Caetano jovem e sábio, dos anos sessenta, ao Caetano velho e senil, de 2013. Acho que Caetano precisa conhecer Falstaff e saber como é ser velho e jovem ao mesmo tempo. O que ele fez ontem, mostra que ficou senil antes do tempo. Se Caetano tinha alguma coisa de jovem, morreu ontem.