"O meu sonho na vida era ter o poder de ser um vídeo cassete de mim mesmo; ter o controle remoto que me permitisse renascer experiências vividas. Eu poderia voltar o tempo, acelerar pular cenas dos próximos capítulos, parar imagens no momento que me tivesse sido glorioso, vivê-lo outra vez, talvez eternizar o orgasmo. Eu poderia correr a fita de modo a entrar na percepção do futuro ou recuar para consertar, corrigir para confirmar. Ah, com esse aparelhinho eu poderia criar o ideal. O ideal seria que o homem nascesse aos oitenta anos, fosse ficando mais novo, mais novo... até morrer de infância. Nascendo com oitenta anos ele casaria com uma mulher de cinquenta e sete, mas com uma vantagem: a cada dia ela ia ficando mais nova, até se transformar numa gata de vinte. Eles ficaríam noivos, namorados, da bicicleta ao velocípede, desaprenderiam a andar, esqueceriam como engatear, o babador, o cercadinho, do cercadinho ao berço, às fraldas molhadas, o peito da mãe, até um dia ele parar de chorar. Seria o tempo correndo para trás, até aparecer o último homem, Adão, o último primeiro, a quem Deus colocaria sobre a mão, e ao invés de soprar sobre ele, Deus inspiraria o homem outra vez para dentro de si mesmo..."