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Cresce a adesão à educação domiciliar nos EUA

Enviado por Gilberto Godoy
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    À primeira vista, a educação doméstica ou domiciliar, conhecida nos Estados Unidos como home school, causa estranheza. Como um pai ou uma mãe podem ser capazes de substituir a escola, mesmo sem terem experiência como professores? Parece loucura, mas mas além de eleger Trump, nos Estados Unidos 2,9% das crianças em fase escolar não frequentam salas de aula tradicionais, mas são ensinados em casa pelos pais ou por tutores.

     A prática conhecida como home school já é a realidade de mais de 1,5 milhão de crianças e adolescentes, e esse número aumenta em média 7% ao ano, de acordo com o National Center for Education Statistics (Centro Nacional para Estatísticas em Educação) do governo americano. E o que pode ser mais surpreendente, com bom resultado.

     Uma avaliação realizada pelo National Home Education Research Institute (Institute Nacional de Pesquisa sobre Educação Domiciliar) com mais de 10 mil estudantes dos 50 estados norte-americanos demonstrou que os chamados “homeschoolers” obtiveram pontuação mais alta que os estudantes das escolas públicas e privadas americanas em todas as matérias pesquisadas (leitura, língua inglesa, matemática, ciência e estudos sociais). Enquanto os representantes das escolas públicas e privadas pontuaram uma média de 50 pontos, os estudantes domiciliares atingiram em média 86 pontos.

     A editora da revista digital Practical Homeschooling (Educação doméstica na prática, em tradução livre), Mary Pride, diz que é fácil entender esses resultados. “As pessoas mais interessadas na educação de uma criança são os pais dela. Se você tira as decisões educacionais das mãos do Estado ou de uma professora desconhecida, e as coloca nas mãos dos maiores interessados, é muito provável que os resultados serão excelentes”, afirma Mary. Além disso, a educação domiciliar é normalmente feita em grupos muito pequenos ou mesmo no formato de aula particular, quando o professor, seja ele um profissional ou uma mãe, está observando atentamente o aprendizado do aluno. Nenhuma dúvida passa despercebida.

     Reconhecimento na década de 90

     Até o início dos anos 90, ensinar em casa era um crime nos EUA. Na década de 80, centenas de famílias lutaram legalmente pelo direito de educar seus filhos domesticamente. Um a um, esses casos foram sendo reconhecidos, e a prática de home school foi ficando mais conhecida. Progressivamente, cada um dos 50 estados americanos começou a ajustar a sua legislação para regulamentar a prática. Finalmente em 1993 todos regularizaram a escola doméstica, porém até hoje as leis são diversas em cada um deles. “Atualmente nos EUA praticamente todo mundo conhece pelo menos uma criança sendo educada pelos pais em casa”, afirma Mary.

     No estado de Nova York por exemplo, os passos necessários para uma família que quer educar seus filhos em casa envolve notificar a secretaria da educação antes do início do ano letivo, preencher um documento sobre qual será o plano de educação (currículo), manter o registro de datas e horas das aulas por pelo menos 180 dias por ano, enviar um relatório a cada trimestre explicando os temas tratados e o desempenho do aluno e, por fim, enviar um relatório final anual, juntamente com o relatório do quarto trimestre, com uma avaliação escrita sobre o aluno

     Alguns estados ainda aplicam testes independentes a cada ano para testar os estudantes, mas a avaliação geral é efetivamente feita com as provas nacionais chamadas SAT e ACT, pré-universitárias – o “Enem” norte-americano. Normalmente, a pontuação dos estudantes “caseiros” é vários pontos mais alta que a média.

     Qualidade e rapidez no ensino

     Rebecca Kochenderfer mora na Califórnia e tem três filhos, de 20, 18 e 15 anos. Ela os educou em casa, com a ajuda do marido, dos pais de outras crianças (nas chamadas cooperativas educacionais), e de professores particulares. “Assim que eu fiquei grávida do meu primeiro filho, eu decidi que não queria colocá-lo na escola porque, sendo professora, eu via de perto como as coisas funcionavam: muita perda de tempo, pouca atenção personalizada e diversos professores mal informados”, conta Rebecca.

     Ela explica que as grandes vantagens da educação doméstica são a qualidade do ensino, o controle que os pais passam a ter sobre a educação dos filhos e o fato das crianças aprenderem não só a matéria, mas sobre elas mesmas e as formas que elas preferem estudar e se educar. “Trata-se do aprender pelo prazer de aprender, não para simplesmente passar em uma prova e depois esquecer. Eu nunca vou esquecer do dia que meu filho me chamou para repassarmos a lição de multiplicação porque ele ainda não estava seguro para ir adiante. As escolas tradicionais não têm espaço para isso”, afirma Rebecca, que de tanto se aprimorar em educação domiciliar, lançou o site mais visitado em todos os EUA sobre o tema: www.homeschool.com.

     Atualmente Rebecca está viajando pelos Estados Unidos para escrever um guia sobre educação domiciliar e dar dicas sobre lugares que podem ser visitados em cada estado para enriquecer a educação das crianças. “Home school envolve muitas visitas a museus, bibliotecas, teatros e exposições. É importante aprender com o mundo, não só com os livros”, explica a mãe-educadora, que conversou com o iG durante a sua rápida passagem por Nova York.

     Outra grande vantagem deste tipo de educação é a rapidez. Enquanto uma criança matriculada em uma escola tem que passar toda a manhã ou toda a tarde em sala de aula, o ensino em casa é normalmente feito em uma ou duas horas por dia. Significa muito mais tempo livre para as atividades extracurriculares e passeios. “É por isso que muitos jovens atores ou cantores optam pela escola domiciliar”, diz Rebecca.

     Falta tempo para pais e socialização a crianças

     Mas é claro que existem desvantagens também. A maior delas é a perda ou diminuição da receita familiar, pois um dos pais tem que trabalhar menos ou parar completamente para se dedicar a educação dos filhos. Por outro lado, diminui também o custo da escola, se ela for particular. Outra desvantagem muito defendida pelos críticos da escola doméstica é a falta de socialização. Por outro lado, aumentando o tempo para atividades extracurriculares, as possibilidades de aumentar o contato com outras crianças também existe. O problema, porém, mais comum, que atinge mais de 90% dos pais que optaram por educar seus filhos em casa, é bem mais prosaico: falta de tempo e de oportunidades para limpar a casa e colocar as coisas em ordem, afinal as crianças passam mais tempo no ambiente.

     Fonte: IG / Educação

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