Costumo dizer para meus amigos aqui em Brasília que, se houver uma corrida de Jumentos na Esplanada dos Ministérios em que o vencedor seja aquele que mais produza estrume, dezenas de milhares de pessoas se deslocarão para assistir o grotesco “evento”. Tal é a quantidade de gente besta, desocupada e preguiçosa que existe por aí. Esse público é o mesmo que abraça causas estúpidas mundo afora. A motivação é uma só: tédio. Falta do que fazer. É a necessidade de circo, que os romanos ofereciam ao povo, numa época em que os dias de trabalho e os fins de semana se confundiam.
A maior doença da humanidade é o medo. A segunda, o tédio. A quantidade de gente que não faz nada e não tem vontade fazer é enorme. Ficar em casa o dia todo em frente ao computador, assistir a televisão, vadiando na rua, fumando maconha, tomando cachaça, cansa, e é preciso fazer algo “mais interessante”. Quebrar coisas na rua, soltar cães, protestar contra a Usina de Belo Monte, tocar fogo em orelhões, ônibus, bancas de revistas, depredar prédios públicos, tirar a roupa e declarar-se Vadia ou Black Bloc e outras aberrações é mais emocionante, e dá a ilusão de que se está fazendo algo.
Duvido das análises feitas por sociólogos de que as manifestações violentas que estão ocorrendo no Brasil sejam fruto de descontentamento da “nova classe média” com os serviços públicos. Sem dúvida que é. Mas é mais que isso. É preguiça misturada com ignorância, por falta de coragem de estudar, trabalhar, pensar, produzir e, assim, suprir suas necessidades, embora muitos desses pobres-diabos sejam contratados por partidos políticos radicais, sem representação, para organizar a baderna, fingindo agir por ideologia. Quem gosta disso são os criminosos comuns que se misturam a eles e fazem a festa.
Manifestações têm que ter foco e objetivo. Quando elas estouraram de forma surpreendente na Copa das Confederações, logo ficou claro que havia uma ira represada em virtude da corrupção e da falta de um serviço público de qualidade. Tanto que os manifestantes e desocupados foram para a porta da Câmara Federal, Assembleias legislativas e Câmaras Municipais. A violência em torno dos estádios foi liderada pelo “bloco dos sem ingresso”. Depois viraram atos isolados liderados – misturados com os tolos que falei – por brucutus e marginais, denominados Black Blocs.
A destruição do patrimônio privado: bancos, lojas, bancas de revistas, automóveis, ônibus, caminhões, orelhões tem sido a tônica dos bandidos, chamados carinhosamente de rapazes e moças pela imprensa. O movimento está, no momento, quase restrito a São Paulo e Rio. Os prejuízos causados têm sido enormes, e não sabemos como a conta será paga. O estado está atarantado, e o poder judiciário solidário aos criminosos; a polícia está apavorada e acossada pela mídia pusilânime. Tanto o estado quanto a sociedade estão completamente despreparados para enfrentar essa situação.
Quando digo que não acredito em objetivos no movimento, é porque não vejo essa gente dirigir-se ao grande responsável pelos problemas do Brasil: o Poder Judiciário. O alvo da ira deveria ser o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e os Tribunais de Justiça estaduais. Esses palácios – os prédios mais sofisticados do país – ocupados por homens e mulheres denominados ministros ou desembargadores, elegantes e engravatados, bem pagos, cheios de pose, inamovíveis, de conversa articulada e vocabulário ininteligível, os guardiões da lei. Não é possível que 1% dos membros desse movimento, que tem alguma massa cefálica, não consiga enxergar onde está o cerne do mal que corrói o Brasil. Se há muita injustiça é porque quem é responsável por aplicar a justiça não está trabalhando direito! Simples, óbvio!
O poder legislativo é culpado também, mas os parlamentares dialogam com os cidadãos, o judiciário não. O caos brasileiro é fruto da impunidade. Dos contratos mal feitos e não cumpridos, em virtude da lentidão e da corrupção que grassam nessas cortes. Por que os manifestantes não vão para a porta dos tribunais acossar os juízes? Pedir a eles celeridade nos processos! Muitos tribunais viraram balcão de venda de liminares e sentenças – vejam o recente desvio de meio bilhão de reais em precatórios manipulados no TJ da Bahia.
Para que essa gente me prove que não é plateia de corrida de jumentos, e que pretendem realmente mudar o Brasil para melhor, devem ir direto ao alvo. E o alvo, torno a dizer, é o poder judiciário. Fora isso, batendo na polícia, eles conseguirão apenas dormir na cadeia e responder a um processo que se arrastará por dezenas de anos e não dará em nada.
Lembro que Shakespeare disse que “Se rouba muito mais comumente nas profissões mais respeitáveis”. É isso!