Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Maquiavel e os farsantes - Theófilo Silva

Enviado por Theófilo Silva
maquiavel-e-os-farsantes---theofilo-silva

 

     Cícero achava, assim como seus contemporâneos romanos, que “Quem pensa que pode conquistar glória duradoura pela simulação está muito enganado”, e que “todas as simulações logo caem por terra como flores frágeis”. Maquiavel, quinze séculos depois,  discorda dele, dizendo que os homens, em sua maioria, são simplórios e propensos a se iludir, aceitando as coisas tais como se apresentam, sem críticas, julgando apenas pelas aparências. Ou seja, que “todos podem ver o que aparenta ser” e “poucos veem o que realmente é”. Assim, “um hábil dissimulador sempre encontrará muitas pessoas que se deixam iludir”. Com essas afirmações, aparentemente simples, o mal-afamado florentino criou a Ciência Política.

     O mundo está cheio de farsantes, e nenhuma seara é mais propensa à existência desses indivíduos dissimulados do que a arena política, dos homens públicos, em particular, os detentores de mandato, que perseguem alcançar os degraus da escada do poder até o topo. Para isso, a maioria deles faz da mentira sua grande aliada diária.

     No tempo de Cícero, século I A.C, e Maquiavel, século XVI, era mais fácil os cidadãos terem uma visão melhor de seus príncipes, já que havia contato pessoal nos eventos públicos, comuns entre os governantes mais acessíveis. Nos dias de hoje, o contato se dá apenas no período eleitoral. No resto dos anos, toda a visão é formada a distância, por intermédio dos veículos de comunicação, com imagens maquiadas milimetricamente pelos marqueteiros.

     Ainda no mesmo século de Maquiavel, Shakespeare concorda com o ilustre florentino, desnudando toda a comédia humana com seus mais de mil e trezentos personagens. Em obras como Hamlet, Rei Lear, Macbeth, Antônio e Cleópatra e outras, o bardo desnuda a alma dos governantes, deixando-as nuas e expostas ao sol. Quando Othelo, traído pelo falso Iago, diz que “Os homens deveriam ser o que parecem” ele estava repercutindo Maquiavel.

     O que transformou Niccolo Machiavelli em Maquiavel, detentor do substantivo Maquiavelismo e do adjetivo Maquiavélico, sinônimas de maldade, foi seu ateísmo e desprezo pelo cristianismo. Muito embora, ele achasse a religião importantíssima para organização da sociedade, sua falta de fé, em um período em que todos acreditavam em Deus – principalmente, os príncipes – e eram católicos, contribuiu muito para que suas completamente lúcidas ideias, acerca dos homens públicos e da política, o tenham transformado num perverso aos olhos dos que o leram em seguida.

     E assim, esse homem que enxergou demais teve sua imagem completamente deturpada, sendo visto por todos como um malvado. Sua imagem entre as pessoas comuns, na sociedade em geral, é a de um pervertido que só vê o lado ruim do ser humano. Somente os estudiosos são capazes de enxergá-lo como uma espécie de vidente. Muito embora, ainda haja uma parcela, não desprezível, que o agrida.

     A humanidade tem uma dívida enorme com Nicollo Machiavelli, esse cidadão da fulgurante Florença, contemporâneo de Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarotti – em nenhuma época do mundo uma cidade pariu, e teve três gênios de tão grande envergadura trabalhando tão perto um do outro. Se uma parcela mínima da sociedade conhecesse as análises que Maquiavel fez sobre o exercício da política, tenho a certeza que teríamos governantes e parlamentares muito melhores do que temos tido, em qualquer lugar do mundo.

     E uma nação que tem homens públicos probos e trabalhadores tem uma sociedade mais justa. E assim, a escória corrupta e hipócrita de imagem forjada em cima da mentira e da farsa, em aliança com a imprensa e instituições coniventes, é forte e atuante, alimentada pelos inocentes que não conseguem enxergar os tratantes. Esses perversos trabalham criando factoides e distribuindo-os para a imprensa comprada. Mas, muitos “caem por terra como folhas frágeis”, como disse o grande Cícero. O exemplo recente no Brasil foi do procurador de justiça e Senador da República Demóstenes Torres. Outros Demóstenes continuam mascarados.

     Eu diria para os leitores que meus escritos têm um único fim, alertar as pessoas sobre o grande dilema que a humanidade enfrenta entre realidade e aparência. Portanto, tomem cuidado com aqueles que se apresentam como vestais! Eles são falsos!

     Este artigo é uma homenagem aos quinhentos anos da publicação da obra-prima O Príncipe, o polêmico e fantástico opúsculo de Niccolo Machiavelli.


     Do blog:  http://theofilosilva.com/home/blog/2013/01/04/maquiavel-e-os-farsantes/

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    Devemos ter muito cuidado para não emitir uma opinião demasiado favorável de um homem que acabamos de conhecer; pelo contrário, na maioria das vezes, seremos desiludidos, para nossa própria vergonha ou até para nosso dano. A esse respeito, uma sentença de Sêneca merece ser mencionada:    (continua)


  •    Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que...   (continua)


  •    1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa; 2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas; 3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
      (continua)


  •    Tenho me perguntado uma coisa há algum tempo, e o leitor que me acompanha sabe disso. A pergunta que me atormenta é: por que nós intelectuais achamos que somos do bem? Explico meu estranhamento. Intelectuais são pessoas normais e, portanto, movem-se por interesses que nem sempre podem ser...   (continua)


  •    A função do amor é fabricar desconhecimento (o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar) embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se importar se o...   (continua)


  •    Embora tenha frequentemente criticado o que se chama de arte contemporânea, devo deixar claro que não pretendo negá-la como fato cultural. Seria, sem dúvida, infundado vê-la como fruto da irresponsabilidade de alguns pseudo-artistas, que visam apenas chocar o público. Há isso também...   (continua)


  •    Existem coisas que nunca esquecemos, os cheiros é uma delas. Inúmeras vezes nos deparamos com um cheiro e ele nos remete a lembranças remotas ou não. No início de 2010 li “Os Cheiros” escrito por Danuza Leão, tirei a página da revista e sempre voltava a lê-lo.   (continua)


  •        "Acontece que o Conde Matarazzo estava passeando pelo parque. O Conde Matarazzo é um Conde muito velho, que tem muitas fábricas. Tem também muitas honras. Uma delas consiste em uma preciosa medalhinha de ouro que o Conde exibia à lapela, amarrada a uma fitinha. Era uma condecoração (sem trocadilho).   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília