Os jatos de combate que já voaram com a FAB
A Força Aérea Brasileira (FAB) estreou na era dos caças a jato em 1953 com a chegada do Gloster Meteor, fabricado na Inglaterra. A aeronave, que nesse tempo era uma das mais avançadas no mundo, substituiu os veteranos P-47 Thunderbolt que haviam participado da Segunda Guerra Mundial com o grupo “Senta a Púa”, e estabeleceram novos parâmetros de velocidade e altitude que os antigos aviões com motores a pistão jamais poderiam alcançar.
A partir do Meteor, aeronaves a jato foram incorporadas em todas os esquadrões de ataque e defesa da FAB. A mudança exigiu a aquisição de diversos aparelhos ao longo dos anos e também movimentou a indústria nacional, que desenvolveu seus próprios aviões com turborreatores.
Conheça a seguir a “coleção” de aeronaves de combate com motores a jato que já voaram e ainda voam com as cores da FAB:
Gloster Meteor
Primeiro caça a jato da FAB, o Gloster Meteor chegou ao Brasil após um curioso acordo: o governo brasileiro, então liderado pelo presidente Getúlio Vargas e sem reservas monetárias, trocou 15.000 toneladas de algodão por 60 caças britânicos. O avião alcançava 900 km/h e 15 mil metros de altitude.
O Meteor foi um dos primeiros aviões com motores a jato do mundo. Desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial, a aeronave voou pela primeira vez em 1943 e participou de ações isoladas no final do conflito na Europa. O modelo britânico é contemporâneo do caça alemão Messerschmitt Me 262, que foi o primeiro avião a jato a entrar em operação.
Por ser um dos únicos aviões de seu tipo no mercado do pós-guerra, o Meteor foi o primeiro caça a jato de diversos outros países, como Austrália, França e Holanda. A FAB operou os jatos da Gloster Aircraft de 1953 até 1974.
Lockheed Martin T-33
Pouco após a chegada dos Meteor, a FAB se reforçou com outro caça a jato, o Lockheed Martin T-33. Com desempenho comparável ao do modelo britânico, mas com uma capacidade operacional mais versátil, o modelo fabricado nos Estados Unidos podia alcançar 970 km/h impulsionado por apenas um motor – o Meteor era equipado por dois turborreatores.
Ao todo, a FAB contou com 58 unidades do T-33, operadas entre 1956 e 1975. O aparelho serviu como aeronave de defesa e ataque e, no final de sua carreira, foi utilizado no treinamento avançado de pilotos.
Apesar de sua história discreta com a FAB, o caça da Lockheed ficou marcado por um grave acidente. No dia 18 de julho de 1967, um T-33 atingiu a cauda do avião Piper PA-23 Aztec no qual viajava o ex-presidente Marechal Castelo Branco.
O Aztec caiu, matando Castelo Branco e outros quatro ocupantes da aeronave, entre eles Cândido Castello Branco, irmão do ex-presidente. O co-piloto do Piper sobreviveu e o caça, apesar de danificado, conseguiu pousar com segurança.
Cessna T-37
Com participações em combates na guerras da Coreia e Vietnã, o Cessna T-37 era um avião equipado com dois turborreatores especializado em missões de ataque ao solo. A FAB teve 65 aparelhos desse tipo, que voaram entre 1967 e 1981.
Com uma cabine onde os tripulantes voam lado a lado, o T-37 também foi muito utilizado no Brasil no treinamento de pilotos. O jato militar da Cessna operado pela FAB foi a versão T-37C, a primeira da série que podia ser armado com bombas, desenvolvida nos EUA em 1961 – o primeiro T-37 voou em 1955.
Dassault Mirage III
Comparado às forças armadas de países de primeiro mundo, a FAB levou mais de 20 anos para alcançar a velocidade do som após o primeiro voo desse tipo. Mas quando o fez, passou de mach 2 (duas vezes a velocidade do som). O primeiro jato operado no Brasil capaz de quebrar a barreira do som foi o francês Dassault Mirage III, que superava os 2.400 km/h.
Considerado um dos caças mais bem sucedidos, tanto no mercado como em combate, o Mirage III chegou ao Brasil em 1970. Foram adquiridos 17 aparelhos, que voaram até a exaustão com a FAB. Os jatos da Dassault, que passaram por dois programas de revitalização estrutural e de sistemas durante sua carreira no Brasil, foram desativados em 2005.
O Mirage III foi o primeiro avião da FAB equipado com radar de busca e que podia carregar mísseis de orientação térmica (artefatos que seguem o calor gerado por outros aviões). O caça também contava com dois canhões de 20 mm e podia carregar até 4.000 kg de bombas – os modelos da Força Aérea da França podiam ser armados até com armas nucleares.
Embraer AT-26 Xavante
Primeiro avião a jato fabricado no Brasil e fundamental para a evolução da Embraer, o AT-26 Xavante teve um longa e importante carreira com a Força Aérea Brasileira. Os primeiros aparelhos entraram em serviço em 1971 e a produção continuou até 1981.
O Xavante é a versão nacional do Aermacch MB-326, desenvolvido na Itália. Ao todo, a Embraer fabricou 166 unidades do jato, que voaram por mais de 40 anos até sua aposentaria definitiva em 2013. Os AT-26 da FAB foram utilizado principalmente em treinamentos com armamento.
Por contar com a capacidade de transportar armas, o Xavante também podia ser destacado para missões de ataque ao solo e bombardeiro.
Northrop F-5 Tiger
Segundo caça supersônico a entrar em operação no Brasil, o F-5 chegou em 1972, pouco após a aquisição dos Mirage III. Apesar de não alcançar a mesma velocidade do “companheiro” francês, o novo aparelho da FAB foi adquirido em maiores quantidades e distribuídos em diversas bases pelo Brasil, enquanto os Mirage eram posicionados em Anapólis (GO) – em tese a base que serve para proteger Brasília (DF).
Ao todo, a FAB adquiriu três lotes de caças F-5 novos e de “segunda mão” em diferentes épocas: dois dos EUA, nos anos 1970 e 1980, e um da Jordânia, nos anos 2000. Ao todo, a frota possui cerca de 60 jatos – o número de unidades em condições de operação não é divulgado.
O F-5 pode alcançar 1.700 km/h e levar uma variada carga bélica (até 2.800 kg) composta por mísseis, bombas e foguetes. Os modelos da FAB ainda contam com sistemas de reabastecimento aéreo, recurso que aumenta o alcance das aeronaves.
Com a aposentadoria dos Mirage 2000, em 2013, os F-5 assumiram o papel de principal caça de defesa e vigilância aérea do Brasil. Os modelos devem permanecer nessa função até 2019, quando começam a chegar ao País os primeiro caças de última geração Gripen NG.
Mesmo com a chegada dos Gripen, o F-5 ainda não tem data para se aposentar e deve seguir voando com FAB por mais uma década ou duas. O “Tiger” também é um dos principais caças de forças armadas de países como Suíça, Tailândia e Marrocos.
AMX
Outro jato “Made in Brazil”, o AMX é o avião militar mais avançado desenvolvido no Brasil. A aeronave, um caça-bombardeiro leve, foi desenvolvido pela Embraer em parceria com as fabricantes italianas Aeritalia (atual Alenia Aeronautica) e a Aermacchi.
O primeiro AMX voou em 1984 e cinco anos depois, concluída a fase de testes, o jato foi incorporado aos esquadrões da FAB e segue ativo até hoje, com a designação A-1. O modelo também voa com a Aeronautica Militare, a força aérea da Itália.
Segundo dados oficiais, o AMX alcança a velocidade máxima de 1.020 km (não é supersônico) e pode carregar uma carga bélica de até 3.000 kg, entre bombas e mísseis de ataque aéreo e de superfície. Além de caça interceptador e bombardeiro, o A-1 também é aplicado em missões de reconhecimento aéreo e perturbação eletrônica.
A FAB possui 53 modelos A-1 e está em curso um programa de modernização com a Embraer, que vai revitalizar 43 aparelhos. As aeronaves atualizadas, chamadas A-1M, têm equipamentos de bordo mais avançados e radar de maior alcance. O AMX deve continuar a serviço no Brasil até meados de 2030.
Mirage 2000
Ironicamente, o melhor caça a jato que voou com as cores da FAB foi uma solução provisória e já saiu de cena. O Dassault Mirage 2000 foi o mais rápido e avançado avião de combate que operou com as forças armadas do Brasil. Podia passar dos 2.500 km/h e possuía sensores que permitiam detectar aeronaves há mais de 100 km de distância e utilizar armamentos “inteligentes”.
Com a aposentadoria dos Mirage III e os atrasos na definição do programa FX-2, que deveria selecionar o novo caça de alta performance da FAB, o Mirage 2000 foram uma solução “tapa buraco”. Foram adquiridos 12 caças usados de estoques da França, que operaram no Brasil entre 2008 e 2013.
Com a aposentadoria dos Mirage 2000, o principal defensor dos céus do país passou a ser o F-5, de menor desempenho e capacidade de armamentos. O substituto definitivo para essa lacuna será o Gripen NG, que ainda está em fase de desenvolvimento.
Bônus: Douglas A-4 Skyhawk
A Marinha do Brasil também voa! A corporação possui 23 caças-bombardeiros Douglas A-4 Skyhawk, que podem ser operados a partir de porta-aviões. Os jatos foram adquiridos em 1998 para participarem de operações navais com o porta-aviões NAe São Paulo, que também era novidade nesse tempo – os AF-1, na designação da Marinha, também operaram por um breve período a bordo NAe Minas Gerais, desativado em 2001.
Veterano de combate com uma extensa ficha de combate, o A-4 participou de inúmeras ações na Guerra do Vietnã com a Marinha dos EUA e ações no Oriente Média com Israel. Os aviões em operação no Brasil pertenciam ao Kuwait, que os empregou em combate contra o Iraque, na Guerra do Golfo, em 1991.
O A-4 é um avião subsônico (alcança cerca de 1.080 km/h) e já um tanto antigo (foi projetado no final da década de 1950), mas com um soberba carga bélica: pode carregar quase 5.000 kg de armamentos. Os aparelhos em operação no Brasil estão passando por um processo de modernização estrutural e de sistemas (programa AF-1M) que devem prolongar sua vida útil para além de 2025.
Os A-4 da Marinha do Brasil, porém, estão operando em terra firme. O porta-aviões São Paulo está parado no Rio de Janeiro para um longo período de reformas que ainda não tem uma previsão exata de conclusão e volta ao mares.
Fonte: airway via uol