Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Santa Ignorância - Theófilo Silva

Enviado por Theófilo Silva
santa-ignorancia---theofilo-silva

 

     As especulações da imprensa acercada renúncia do papa Bento XVI, bem como do conclave e do cardeal que poderá sucedê-lo, demonstram uma gigantesca ignorância de como funciona a igreja. O cerne das notícias é de que o novo papa deve ser brasileiro, africano, novato, ou de um país com maioria católica. Para eles, a lógica tem que ser a mesma que rege a política, tudo tem que ser feito de forma “democrática”. Santa ignorância!

     A Igreja católica representa o status quo, uma instituição de quase dois mil anos de existência que foi se fragmentando ao longo do tempo, sendo dividida em várias outras seitas e religiões cristãs. Mas que, ainda assim, detém um número de fiéis que chega perto de 20% da população mundial. Se contarmos apenas com o ocidente, esse percentual pode chegar a 40%.

     Em uma época em que prevalece a destruição de quase tudo o que pertence ao passado, como se o passado representasse apenas obscurantismo e repressão – e de que tudo o que é novo é bom para a humanidade – a igreja católica, a mais antiga das instituições, tornou-se o alvo preferido daqueles que defendem que “tudo deve ser modernizado”.   Como se modernizar tivesse para a igreja o mesmo sentido que tem para o mundo secular.

     Para a Igreja, essa “modernização” é uma praga. E, assiste horrorizada,  a devastação que está sendo feita, nesta que é apontada, até pelos indivíduos mais radicais, a célula mater da sociedade: a Família.

     Para piorar o quadro, uma minoria de religiosos, padres, bispos, diáconos e outros têm sido constantemente acusados de assédio sexual contra crianças. Um dos crimes mais condenados pela sociedade moderna. Crimes que, muitas vezes, contam com o acobertamento da própria igreja. A chamada pedofilia de padres, que ocorre em vários lugares do mundo, tem arranhado fortemente sua credibilidade.

     Sabemos que,  o tempo no que se refere a Fé, principalmente nas religiões, não é o mesmo que o da Razão. A rapidez trazida pela tecnologia da informática apressou o tempo, e a igreja  não percebeu isso. Ou se percebeu, não conseguiu reagir a contento.

     Pergunto  se já não estava na hora da igreja católica rever a questão do celibato dos padres? O chamado voto de castidade, um dos pilares do juramento dos pregadores, parece ter empurrado alguns padres para o desvio sexual da pedofilia. Não sei quanto tempo esse debate pode durar,  vinte, quarenta, sessenta anos, mas acho que é chegada a hora de começar.

     Quando o idoso cardeal Ratzinger foi apontado como o provável sucessor do extremamente carismático papa João Paulo II, a imprensa taxou o cardeal alemão como reacionário, e que ele seria o chefe da famigerada Inquisição. Muito embora saibamos que a Inquisição foi extinta  no século XIX. O outro entrave seria sua idade avançada, que o impediria de dar conta das exigências do cargo. Passados oito anos, quando, Ratzinger, o Bento XVI, resolveu renunciar apontando fadiga, a imprensa não lembrou que o chamara de velho e cansado. Portanto, incapaz de dar conta do cargo.

     Todo ambiente de poder é dominado por disputas. Não seria muito diferente em uma instituição presente em todos os continentes e países do mundo, com mais de um bilhão de fiéis e de milhões de pessoas envolvidas na sua estrutura. A igreja católica detém ainda um patrimônio que ultrapassa dois trilhões de euros. Ou seja, tem um PIB muito maior que o do Brasil. Então, é preciso preservar esses bens, sem os quais a Igreja não teria força.

     A Igreja fala em crise da razão, enquanto a turma do lado de fora diz que a crise é da fé. Enquanto o debate prossegue, uma constatação deve ser feita, e nesse ponto a igreja tem razão, que é a brutal crise que vive a família no ocidente. O casamento, essa instituição complexa, nunca foi tão desmoralizada quanto agora. Homens e mulheres ao se casarem, são como, no dizer de Shakespeare: “Fogo e pólvora: se encontram e se consomem”. Os casais estão desesperados, porque não conseguem ficar juntos, e viver com seus filhos, constituindo uma família. E não entendem o porquê.

     Bento XVI renunciou por amor à Igreja. Porque é um homem de fé. E com sua renúncia chamou à razão alguns colegas egoístas que esqueceram que são homens de Deus. Seu ato deverá ajudar a igreja a superar obstáculos e melhorar sua relação com os fiéis.

     Quanto ao papado, sempre enfrentou crises, deboches e ataques, mas preservou sua integridade. Shakespeare fala que na época de Henrique VIII, na Inglaterra, havia macacos treinados para rolarem no chão gritando, toda vez que alguém berrava Pope (papa em inglês).

     É isso que muitos “analistas” estão parecendo quando fazem observações tolas sobre a igreja e o papado: macacos rolando no chão.

Comentários

  • por: Frennessey S. Leal em terça-feira, 12 de março de 2013
    Interessante! Como cita Leonardo Boff: "Todo ponto de vista é a vista de um ponto." Abraços

Também recomendo

  •    Devemos ter muito cuidado para não emitir uma opinião demasiado favorável de um homem que acabamos de conhecer; pelo contrário, na maioria das vezes, seremos desiludidos, para nossa própria vergonha ou até para nosso dano. A esse respeito, uma sentença de Sêneca merece ser mencionada:    (continua)


  •    Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que...   (continua)


  •    1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa; 2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas; 3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
      (continua)


  •    Tenho me perguntado uma coisa há algum tempo, e o leitor que me acompanha sabe disso. A pergunta que me atormenta é: por que nós intelectuais achamos que somos do bem? Explico meu estranhamento. Intelectuais são pessoas normais e, portanto, movem-se por interesses que nem sempre podem ser...   (continua)


  •    A função do amor é fabricar desconhecimento (o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar) embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se importar se o...   (continua)


  •    Embora tenha frequentemente criticado o que se chama de arte contemporânea, devo deixar claro que não pretendo negá-la como fato cultural. Seria, sem dúvida, infundado vê-la como fruto da irresponsabilidade de alguns pseudo-artistas, que visam apenas chocar o público. Há isso também...   (continua)


  •    Existem coisas que nunca esquecemos, os cheiros é uma delas. Inúmeras vezes nos deparamos com um cheiro e ele nos remete a lembranças remotas ou não. No início de 2010 li “Os Cheiros” escrito por Danuza Leão, tirei a página da revista e sempre voltava a lê-lo.   (continua)


  •        "Acontece que o Conde Matarazzo estava passeando pelo parque. O Conde Matarazzo é um Conde muito velho, que tem muitas fábricas. Tem também muitas honras. Uma delas consiste em uma preciosa medalhinha de ouro que o Conde exibia à lapela, amarrada a uma fitinha. Era uma condecoração (sem trocadilho).   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília