Vocês viram o dia que fez ontem, 28 de outubro, aqui em Brasília? Talvez seja indescritível... Como diria Artur da Távola, esse foi um típico “Diadeus”. Dificilmente “o ato de ser dia foi tão plenamente como ontem! Talvez para homenagear os servidores públicos, tão merecedores de gratidão! A impressão foi a de que Deus se aborreceu com seus assessores e disse: - Vocês já não sabem iluminar um dia! Vejam como é. E realizou a mais linda luz possível a envolver uma cidade.
O dia amanheceu e permaneceu lavado, azul, verde, claro, límpido. Nada desses azuis bêbados de infinito, perturbadores, bons para fotógrafos iniciantes. Não era um azul fácil. Era um azul composto de todas as doçuras da cor, sem tonalidades exaltadas. Nesse céu de estio deu-se (Deus-se?) a iluminação perfeita para o espetáculo do dia. Nenhuma luz em excesso entre o verde das árvores e o plano piloto do céu. Deu pra ver a distância entre a esplanada e os lagos, brilhantes. Até as cigarras pararam de cantar (cantar?) para observar a perfeição do dia. Manhã, tarde e começo da noite transcorreram sem qualquer nuvem, numa paz celestial. Dia pleno da alegria de ser dia, com uma leve tradução de estar vivo sem esforço, sem se impor, sem esbarros, sem carros ...
O dia de ontem foi aquele instante em que tudo o que tem vida consegue o seu peso exato e se equilibra na mais rara das junções, uma talvez em anos, como certas conjunções de astros ou acontecimentos decisivos na natureza, engendrados durante séculos. Um dia assim teria que trazer missões secretas, diretamente orientadas pelo mistério... um dia de poesia que o tempo gravou na história do homem, nos templos, na contrição, no contemplar em silêncio o milagre da vida e o mistério doce de existir...