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Um imenso palco de loucos - Theófilo Silva

Enviado por Theófilo Silva
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    Uma sentença não poderia demonstrar melhor o que estou sentindo ultimamente do que essa fala de Hamlet: “Sinto-me com uma disposição de espírito tão sombria que este glorioso recinto, a terra, até está me parecendo um promontório estéril; esse magnífico dossel, o ar, esse esplêndido firmamento que estamos vendo suspenso, essa majestosa abóbada salpicada de pontos dourados, tudo isso nada mais me parece do que uma pestilenta aglomeração de vapores”. O motivo do meu sofrimento é a bagunça que uma minoria está aprontando no Brasil, respaldada pela irresponsabilidade de amplos setores da imprensa.

     A Democracia, o poder do povo inverteu-se. A vontade do povo, o desejo da maioria não prevalece mais. Agora é o desejo da minoria. Uma minoria de não mais que 10%. É ela que está dando as cartas. Bandidos, destruidores do património público são tratados como cavalheiros, como cidadãos respeitáveis. Trata-se de uma inversão,  moral, ética, espiritual, que acaba com a autoridade e a hierarquia. Sem lei e ordem acabaremos na barbárie. Digo isso porque os “esportes” mais praticados no Brasil hoje são desmoralizar os governos, qualquer que seja ele, queimar ônibus, invadir Shoppings, bater na polícia, depredar prédios públicos, fechar ruas e rodovias, mascarar-se e lutar contra a democracia. E essa gente é minoria, que se sobrepõe aos interesses da imensa maioria. Dizer que a Copa do Mundo de futebol não é necessária ao Brasil, é um sacrilégio! O futebol é nossa alma! A alma do povo!

     O primado da lei está sendo pisoteado e aviltado com essas ações. E as leis avançaram muito na defesa dos mais humildes e necessitados. Essas mesmas leis agora estão sendo usadas para defender aqueles que defendem a anarquia, para os que lutam para destruir todas as formas de governo, e o que foi construído com muita dificuldade pelos nossos antepassados. Há corrupção grossa no Brasil, mas não é destruindo, subvertendo toda a legalidade que chegaremos a um Brasil melhor.

     Não há dúvida que a de degradação da família é uma das causadoras dessa desagregação toda. E eu não sou nenhum moralista.  A família tem levado bordoadas fatais. Como diz Shakespeare: “Basta juntar dois gravetos, e temos um casamento”. O Brasil importou muita coisa estúpida produzida pelo “american way of life” que nos é despejado dentro de casa pelos seus perniciosos programas de televisão. Isso tem um peso enorme na formação das crianças e jovens que consomem essas porcarias. Falo dos programas americanos porque são os mais abundantes, mas a televisão brasileira é de uma mediocridade assustadora.

E o pior é que essa gente que odeia o Estado quer construir uma família, ter filhos, viver junto, construir junto, mas não consegue. A geração cosmética: o culto ao espetáculo, ao corpo, a aparência, as soluções cosméticas – e o desespero está registrado em forma de profanação em seus próprios corpos em forma de tatuagens, piercings, silicone e outras agressões corporais –  é maior do que eles mesmos. E quanto mais eles conspurcam o corpo mais perdem a alma, destroem a mente e o espírito. E quantos mais eles mergulham no fetiche, mais desumanizados se tornam.  Os programas de TV de maior sucesso têm um único objetivo: mostrar a bunda das mulheres e as tatuagens de homens de características e conteúdo simiesco. Mas, sei que à hora de dormir, à noite, a verdade chega pra essa gente de maneira implacável, sem perdão, obrigando-os a ter uma conversa dura e chorosa com o travesseiro, lugar onde se desmascara todas as mentiras. É hora de chorar, e saber que estão enganando a si mesmos. Eles simplesmente não entendem porque não conseguem algum equilíbrio em suas existências estúpidas.

     Não é fácil para alguém sensato enxergar essa podridão que nos cerca! Daí que necessito do jovem príncipe da Dinamarca para fazer esse desabafo. Mas se Hamlet me faz desesperar com sua crueza, o Rei Lear me aconselha, não sem me causar arrepios: “Precisas ser paciente, chegamos aqui embaixo chorando. Saiba que a primeira vez que respiramos o ar soltamos gritos e gemidos. Vou fazer uma pregação, presta atenção: quando nascemos, choramos por termos vindo para este imenso palco de loucos”.

     Sim, o nosso palco está cheio de estúpidos, e é preciso expulsá-los aplicando a lei, separando-os do corpo sadio da sociedade.


    Theófilo Silva é palestrante e escritor – autor dos livros A Paixão Segundo Shakespeare e Shakespeare Indignado, membro da New American Shakespeare Tavern, criador da sociedade Shakespeare de Brasília e articulista em diversas publicações pelo Brasil.

 

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