Era o elemento que faltava para completar o pacote ecologicamente correto do estereótipo do povo de Seattle. Além de fazer reciclagem, comprar produtos orgânicos produzidos localmente e trocar o carro pelo transporte público, o típico morador de Seattle também simplifica a vida praticando o “downsizing”.
Na falta de melhor tradução, o “enxugamento” significa optar por uma rotina mais prática. Ao reduzir a complexidade dos compromissos, a pessoa teria uma sensação de liberdade. Menos itens para dar atenção, menos motivos de preocupação.
Enquanto no mundo corporativo o conceito está associado a racionalização de custo e demissão de funcionários, na vida pessoal o enxugamento é o reflexo de qualquer mudança em prol de uma vida mais simples.
Um colega de trabalho vendeu um carro antigo que era seu xodó e reduziu as despesas de manutenção. Uma conhecida mudou de uma casa ampla para um apartamento pequeno, mesmo tendo que vender parte dos móveis. Uma amiga doou a televisão e usa o tempo livre para ler mais.
Por quê? Os três me deram a mesma resposta: estavam fazendo downsizing na vida e se sentiam muito bem com a decisão. Mesmo tendo uma redução de custo associada a vender um carro, morar em um lugar menor e não pagar pela TV por assinatura, a motivação nem sempre é financeira.
O objetivo é “ter” menos itens e depender menos das atividades relacionadas a administrá-los. Um carro extra e uma casa grande exigem tempo, dinheiro e trabalho. Uma TV toma horas que podem ser preciosas quando é preciso dedicação a uma outra atividade. É uma opção.
O conceito prevê que se viva em prol do que dá prazer, em vez de ter o foco concentrado em manter os pequenos e grandes confortos acumulados ao longo dos anos. Ter clareza do que você precisa versus o que você apenas quer ter.
Tem gente que leva o downsizing ao extremo. Fiz um curso com uma menina que mora num sobradinho de 30 metros quadrados numa área de preservação ambiental num subúrbio de Seattle. Não é orçamento curto: o marido dela gosta desse estilo de vida e construiu a casa dos sonhos. É daquelas sem divisórias por dentro, que no Brasil seriam chamadas de loft. Ela jura que gosta da casa, mas cortou os planos do marido de continuar morando lá após terem filhos.
Cada um tem o seu limite para uma vida enxuta. (Uma boa ideia para se por em prática em tempos de excesso de dados e cobranças!)
Melissa de Andrade. Cartas de Seatle. Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview.