Descoberto poema inédito de Fernando Pessoa
Um poema inédito de Fernando Pessoa foi encontrado em um "livro de autógrafos" com um manuscrito de do poeta na última página.
A escritores como Fernando Pessoa, tem-se sempre a ideia de que já não há mais nada a descobrir sobre eles. Afinal, no caso do poeta português, já se passaram mais de 80 anos da morte. Depois de tantas pesquisas e achados, parecia que não haveria mais nenhuma obra do poeta ainda oculta. Tal premissa foi derrubada duas vezes em um ano. Em julho do ano passado, uma caixa contendo documentos e textos inéditos ou referentes ao poeta português foi encontrado em uma garagem de uma casa onde o poeta morou na infância na África do Sul. Nela, além de inúmeras cartas, havia um livro inédito de Pessoa, intitulado “The poet of many faces”, contendo poemas em inglês escrito pelo poeta, organizados na década de 60 — e nunca publicado — por um dos maiores biógrafos de Pessoa, o britânico Hubert Jennings, autor de “Os dois exílios: Fernando Pessoa na África do Sul” pulicado em 1984.
Na caixa, contendo mais de 2000 documentos, havia cartas de pessoas íntimas a Fernando Pessoa dentre elas uma escrita pela meia-irmã dele, Henriqueta Madalena Dias, enviada ao biógrafo Jennings descrevendo a infância do poeta. Tais documentos, que estão na Universidade de Brown, em Prividence, nos Estados Unidos, são objetos de estudo.
Nesta semana, o feito do poema inédito coube ao pesquisador brasileiro, o biógrafo brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho, autor de “ Fernando Pessoa, quase uma biografia” pulicado em 2011 pela Editora Record. A informação foi divulgada neste sábado (11) pelo jornal Folha de São Paulo. Cavalcanti havia comparado no ano passado um caderno de autógrafos contendo um manuscrito de Fernando Pessoa cujo poema começava com o verso “Cada palavra dita é a voz de um morto” — Verso já conhecido em rascunho e de uma publicação de 2015 em Portugal.
A novidade é que o rascunho encontrado pelo biógrafo brasileiro, além de ser uma versão na íntegra do poema é anterior às versões já existentes, constituindo, assim, uma obra inédita. Para verificar a veracidade do poema em questão, a Folha de São Paulo pediu a Jerónimo Pizarro, renomado pesquisador da obra Fernando Pessoa de uma universidade colombiana que analisasse o documento. O pesquisador confirmou ser autêntica a caligrafia do poeta.
O poema
"Cada palavra dita é a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se não velou
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou."
Fonte: blog Palavras!