Em busca da "Partícula de Deus"
Blogueiros especializados em ciência afirmam que a tão esperada resposta sobre o Bóson de Higgs pode sair até meados de dezembro de experiências realizadas pelos cientistas do Centro Europeu de Investigação Nuclear (Cern, em francês). Eles afirmaram que estão concentrados na busca por esta "partícula divina", o último elemento que falta no modelo padrão da física de partículas.
Este modelo explica o comportamento e as interações das partículas fundamentais que constituem a matéria ordinária (que representaria apenas 4% de todo o Universo), "da qual somos feitos e da qual é feito o mundo que nos cerca", explicou o Cern.
Dados recolhidos pelos detectores gigantes de partículas Atlas e CMS, do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) devem elucidar a dúvida: o Bóson de Higgs existe (e explica como a matéria passou a ter massa no início do universo) ou é apenas uma ilusão da teoria?
Segundo James Gillies, pesquisador do Cern, "a área de maior massa já foi descartada, mas o bóson de Higgs poderia ainda estar em qualquer lugar entre 114 a 141 GeV (giga elétron-volts, termo usado na física para quantificar os campos de energia das partículas)." A maior parte dos pesquisadores acredita que o bóson de Higgs será encontrado ao redor de 120 GeV.
O conselho do Cern se encontra de 12 a 16 de dezembro e qualquer sinal concreto da partícula - cuja existência foi postulada há quatro décadas pelo cientista britânico Peter Higgs - seria apresentado durante essa reunião.
Mas o físico e blogueiro do Cern, Pauline Gagnon, afirmou na semana passada que a região de baixo espectro de massa, onde os cientistas sempre esperaram encontrar o bóson, também é a mais difícil de observar. "Pode ser que ele nem exista", afirmou. Essa possibilidade também já foi levantada pelo chefe de pesquisa do Cern, Rolf Heuer.
Isso ecoou nos comentários realizados pelo físico da Universidade de Columbia no blog Higgs Non-News. "Não parece impossível que os resultados disponíveis até meados de dezembro venham confirmar que o bóson de Higgs não existe", afirmou.
Se o bóson de Higgs não for encontrado, a Física precisará explorar outras possibilidades, pois será invalidado o Modelo Padrão da Física de Partículas, de mais de 30 anos.
Acelerador e sensores
Atlas era um dos titãs da mitologia grega, condenado para sempre a sustentar os céus sobre os ombros. Aqui, Atlas é um dos quatro gigantescos detectores que farão parte do maior acelerador de partículas do mundo, o LHC, que está em fase adiantada de testes e deverá entrar em operação nos próximos meses.
LHC é uma sigla para "Large Hadron Collider", ou gigantesco colisor de prótons. Parece difícil exagerar as grandezas desse laboratório que está sendo construído a 100 metros de profundidade, na fronteira entre a França e a Suíça. A estrutura completa tem a forma de um anel, construída ao longo de um túnel com 27 quilômetros de circunferência.
As partículas são aceleradas por campos magnéticos ao longo dessa órbita de 27 Km, até atingir altíssimos níveis de energia. Mais especificamente, 7 trilhões de volts. Em quatro pontos do anel, sob temperaturas apenas levemente superiores ao zero absoluto, as partículas se chocam, produzindo uma chuva de outras partículas, recriando um ambiente muito parecido com as condições existentes instantes depois do Big Bang.
Nesses quatro pontos estão localizados quatro detectores. O Atlas, mostrado na foto nas suas etapas finais de montagem, é um deles. O Atlas, assim como o segundo detector, o CMS ("Compact Muon Detector"), é um detector genérico, capaz de detectar qualquer tipo de partícula, inclusive partículas ainda desconhecidas ou não previstas pela teoria. Já o LHCb e o ALICE são detectores "dedicados", construídos para o estudo de fenômenos físicos específicos.
Bóson de Higgs
Quando os prótons se chocam no centro dos detectores as partículas geradas espalham-se em todas as direções. Para capturá-las, o Atlas e o CMS possuem inúmeras camadas de sensores superpostas, que deverão verificar as propriedades dessas partículas, medir suas energias e descobrir a rota que elas seguem.
O maior interesse dos cientistas é descobrir o Bóson de Higgs, a única peça que falta para montar o quebra-cabeças que explicaria a "materialidade" do nosso universo. Por muito tempo se acreditou que os átomos fossem a unidade indivisível da matéria. Depois, os cientistas descobriram que o próprio átomo era resultado da interação de partículas ainda mais fundamentais. E eles foram descobrindo essas partículas uma a uma. Entre quarks e léptons, férmions e bósons, são 16 partículas fundamentais: 12 partículas de matéria e 4 partículas portadoras de força.
A Partícula de Deus
O problema é que, quando consideradas individualmente, nenhuma dessas partículas tem massa. Ou seja, depois de todos os avanços científicos, ainda não sabemos o que dá "materialidade" ao nosso mundo. O Modelo Padrão, a teoria básica da Física que explica a interação de todas as partículas subatômicas, coloca todas as fichas no Bóson de Higgs, a partícula fundamental que explicaria como a massa se expressa nesse mar de energias. É por isso que os cientistas a chamam de "Partícula de Deus".
O Modelo Padrão tem um enorme poder explicativo. Toda a nossa ciência e a nossa tecnologia foram criadas a partir dele. Mas os cientistas sabem de suas deficiências. Essa teoria cobre apenas o que chamamos de "matéria ordinária", essa matéria da qual somos feitos e que pode ser detectada por nossos sentidos.
Mas, se essa teoria não explica porque temos massa, fica claro que o Modelo Padrão consegue dar boas respostas sobre como "a coisa funciona", mas ainda se cala quando a pergunta é "o que é a coisa". O Modelo Padrão também não explica a gravidade. E não pretende dar conta dos restantes 95% do nosso universo, presumivelmente preenchidos por outras duas "coisas" que não sabemos o que são: a energia escura e a matéria escura.
É por isso que se coloca tanta fé na Partícula de Deus. Ela poderia explicar a massa de todas as demais partículas. O próprio Bóson de Higgs seria algo como um campo de energia uniforme. Ao contrário da gravidade, que é mais forte onde há mais massa, esse campo energético de Higgs seria constante. Desta forma, ele poderia ser a fonte não apenas da massa da matéria ordinária, mas a fonte da própria energia escura.
Fonte: Inovacaotecnologica.com.br