O psicólogo e doutor em biologia Paul Rozin, professor na Universidade da Pensilvânia (EUA), dedicou 25 anos de sua carreira a estudar por que escolhemos determinados alimentos e por que comemos de certa maneira.
Rozin é um pioneiro em nutrição comportamental, especialidade que cresce cada dia mais na luta contra a obesidade e o emagrecimento no mundo. Para ele, além de buscar entender as escolhas alimentares humanas, é preciso partir de uma perspectiva realista de nutrição, ou seja, é preciso aceitar o peso quando este não representa riscos à saúde epromover mudanças no ambiente ao invés de confiar demais na força de vontade individual.
Rozin esteve no Brasil em novembro de 2014 para o 1º Workshop de Nutrição Comportamental e conversou com a Folha. Segundo ele, é preciso fugir do pensamento binário segundo o qual certo alimento faz bem ou faz mal, para introduzir um conceito importante para a saúde e o emagrecimento: a moderação.
Folha: Do que se trata a nutrição comportamental?
Rozin: A nutrição comportamental diz que é não preciso mudar tudo e propõe pequenas e simples mudanças como comer mais devagar e em menores quantidades do que deixar de comer. Um exemplo prático é: Não adianta orientar a pessoa a parar de comer quando está satisfeita sendo que continua havendo comida em sua frente. O ideal é comprar ou preparar porções menores e colocar no prato apenas o que for comer, sem ter mais para repetir.
Folha: Essas pequenas mudanças não são muito limitadas para quem precisa perder muito peso?
Rozin: É claro que algumas pessoas precisaram de um trabalho mais detalhado e no caso da obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica pode ser recomendada. Mas há um limite para as mudanças do corpo. Costumo dizer que peso é igual a altura e para mudar é tão difícil quanto. O ideal é não se preocupar tanto com o peso, regimes preocupam e preocupação faz mal à saúde.
Folha: Acredita que a nutrição tem colocado muita responsabilidade sobre o indivíduo?
Rozin: É mais fácil mudar o ambiente do que a pessoa. Investir em transporte público, por exemplo, faz as pessoas andarem mais. Tentamos mudar o indivíduo durante muito tempo e falhamos.
Folha: Como é possível uma educação para a nutrição?
Rozin: Precisamos entender que uma mesma substância pode trazer riscos e benefícios. Hoje o pensamento é binário e os fenômenos são complexos. A ciência não é necessariamente boa ou má, mas precisamos entender como ela funciona para identificar as possíveis falhas. A mídia divulga algo sobre determinado alimento e logo, todos já estão eliminando-o de sua dieta.
Folha: A noção de que as coisas podem ser boas ou más ao mesmo tempo não imobiliza? Na prática, não temos que saber o que comer e o que não comer?
Rozin: Um conceito importante que precisa ser assimilado é o da moderação, mas ele parece ter sido esquecido na modernidade. As pessoas não gostam da ideia de que algo que é muito bom possa ter problemas. Então, transformam tudo o que tem problema em uma coisa ruim e algo que traz benefícios a um grupo de pessoas em totalmente bom para elas também.
Fonte: Folha de S. Paulo