O ritmo é o rei dos carnavais em Pernambuco, levando milhares de pessoas a subir e descer as ladeiras de Olinda e a brincar e dançar pelas ruas do Recife. A primeira vez que o termo foi usado num jornal do Recife, era 1907. Para os apaixonados, é o momento de lembrar e lutar pelo frevo, renovar para não cair no esquecimento.
Agremiação pouco mais nova que o frevo, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas de Olinda completa cem anos neste ano, com canções como ‘Vou me encostar’, ‘Morcego’, ‘Três da Tarde’ e ‘Rua do Amparo’ marcando sua história. “O frevo é a essência do carnaval de Pernambuco, ele vem da capoeira e ganhou todo o mundo”, acredita Erivelto Paes Barreto, presidente do Vassourinhas.
Ganhou o mundo como o grupo de mulheres negras que fazia parte da primeira diretoria do Vassourinhas, ganhou as ladeiras de Olinda em 1912. “Os compositores chegavam com partitura e tudo para a gente. As coisas mudaram muito nesses anos, o frevo é o frevo ainda, o problema é que se fala mais nele só em janeiro e até chegar o carnaval, mas você não vê novos frevos de rua, aquele frevo rasgado. É tudo muito repetitivo”, diz Erivelto, preocupado.
A renovação está aí para Júlio Filho, presidente da Pitombeira dos Quatro Cantos. O desafio é conseguir divulgar. “O frevo é um dos maiores ícones de musicalidade que Pernambuco tem. Há oito anos que eu começo os ensaios em setembro. Dentro desses ensaios, eu tenho alguns compositores que frequentam e trazem alguma coisa nova, mas a gente não tem a divulgação que deveria ter”, pondera Júlio.
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Porém, essa divulgação não significa transformar o carnaval em algo comercial, estilizando o ritmo e deixando de lado as raízes. “A Pitombeira não seria Pitombeira se alguns, no passado, tivessem dado um sentido comercial, não teria essa ligação tão forte com o frevo, que é algo essencialmente livre”, defende o presidente da agremiação, que comemora 65 carnavais neste ano.
Quem também defende a necessidade de renovação do frevo é Lindivaldo Oliveira Leita, mais conhecido como Seu Vavá, presidente do Banhistas do Pina, bloco lírico que chega aos 80 anos. “Precisamos renovar sempre, para o frevo continuar. Para mim, o frevo é tudo, seja de rua, de bloco ou canção. Nós temos grandes compositores, como Getúlio Cavalcanti, Marcelo Varela, que são pessoas que fazem o frevo de bloco”, acredita Lindivaldo.
Enquanto o frevo de rua deixa a pessoa fervendo, o de bloco representa o romantismo. Não é a toa que o Banhistas surgiu das serenatas de violão ao luar e tem no coral seu ‘coração’. “Frevo é bloco, é troça, clube, só não é maracatu. Frevo de bloco é frevo vivido, a orquestra de frevo é uma coisa, a orquestra de bloco é pau e corda, é lirismo. O bloco é o frevo romântico, cantado, é lírico, que vem do pastoril. É frevo de coral e o coral é o coração dos blocos”, diz, apaixonado, Lindivaldo.
Tanto amor é o que mantém também os Batutas de São José, que também completam 80 carnavais e têm um dos frevos mais conhecidos e cantados do carnaval – ‘Você sabe lá o que é isso’, de João Santiago, feita para o carnaval de 1952. “Batutas já foi casa cheia, todo mundo gostava. Edgar Moraes, Mario Guedes, Santiago, eles fazem parte da história não só do Batutas, como do frevo. Não dá para pensar o frevo sem o Batutas, nem o Batutas sem o frevo”, conta, saudosista, Nadira Almeida, presidente do bloco.
Não dá também para pensar o Homem da Meia Noite sem o frevo, ao menos é no que acredita o presidente do clube, Luiz Adolpho. “O frevo é a própria essência do Homem da Meia Noite. O clube é dissidência do Cariri. Os fundadores do Homem da Meia Nnoite eram apaixonados pelo frevo. É um ritmo contagiante, que transmite alegria”, afirma Adolpho.
Apesar de o ritmo ser contagiante, o frevo de rua leva certa desvantagem em comparação com outros ritmos. “Eu acho um ritmo alucinante. Os turistas se encantam, não somente os brasileiros, como os estrangeiros, ficam extasiados. Por ser muito mais rápido, o frevo é contagiante, mas também inibe. O cara não vai chegar no salão e dançar frevo, ele não aguenta cinco minutos se não estiver acostumado”, pondera Júlio Filho.
"Se você tivesse mais gente famosa cantando frevo, teríamos mais divulgação. Eu posso cantar o frevo mais bonito do mundo, mas não vai adiantar de nada. Precisamos de mais pessoas como Alceu Valença cantando o ano todo", acredita o presidente do Vassourinhas.
Com dificuldades ou não, para os apaixonados, a certeza é de que o frevo é eterno. “O frevo não tem como morrer, Olinda é a representatividade maior do frevo. Enquanto Olinda e o Homem da Meia-noite existirem, o frevo vai persistir. Dizem que o Homem da Meia-noite é eterno, então o frevo também é”, finaliza Luiz Adolpho.
Fonte: Katherine Coutinho do G1