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Shakespeare para executivos

Enviado por Gilberto Godoy
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   O dramaturgo inglês Richard Olivier encontrou uma maneira inovadora de dar continuidade ao legado de seu pai, o ator britânico Laurence Olivier, um dos maiores intérpretes da obra de William Shakespeare. Há cinco anos, Richard começou a dar aulas sobre o Grande Bardo a executivos de empresas multinacionais. É preciso motivar seus funcionários? Henrique V neles. Medo de uma grande mudança? Basta ler um trecho de A Tempestade. Necessita ser mais político com os diretores da empresa? Uma dose de Júlio César. 'É possível extrair lições valiosas de liderança de algumas peças de Shakespeare', disse Olivier numa entrevista por telefone, de sua residência em Londres. A metodologia de Olivier, batizada de mythodrama, já foi utilizada em empresas como DaimlerChrysler, Nokia e British Airways. Elas pagaram de 500 a 7 mil libras (de R$ 2 mil a R$ 28 mil) por um curso que pode durar de duas horas a quatro dias.

ÉPOCA - Como Shakespeare ajuda os executivos a administrar uma empresa?
Richard Olivier - Shakespeare aborda um lado humano que foi esquecido pelas organizações. A pressão do trabalho torna as pessoas robôs funcionais. Elas deixam suas emoções e sensibilidade de lado. Shakespeare as ajuda a recuperar a natureza humana no ambiente de trabalho. Pode soar poético demais, mas é algo especialmente recomendado a quem ocupa posições de comando. Shakespeare pode auxiliar os executivos a aliviar o estresse do ambiente empresarial, marcado por uma constante pressão de curto prazo por resultados. Sua obra mostra que a vida no trabalho não precisa ser restrita à última linha do balanço ou ao lucro no trimestre. É preciso ter uma visão mais ampla e pensar na comunidade que a empresa influencia.

ÉPOCA - Que tipo de influência seu pai teve em seu trabalho?
Olivier - Sempre vivi à sombra de meu pai. Primeiro fui ator, depois diretor de teatro, e por sua causa aprendi Shakespeare. Foi amor à primeira vista. Meu pai foi um grande homem e deixou um grande legado. Minha missão é sustentá-lo.

ÉPOCA - Como o senhor entrou no mundo da consultoria?
Olivier - Em 1996, alguns anos depois da morte de meu pai (1989), comecei a estudar psicanálise e a obra de Carl Jung. Na época, conheci meu sócio, William Ayot, que trabalhava na obra de Joseph Campbell e seus mitos. Ele me convenceu a montar um curso que unisse mitologia, teatro e a poesia de Shakespeare. Fizemos um piloto e, em 2001, conseguimos vender uma palestra para a Secretaria de Administração Pública de Londres. Aí começamos a desenvolver o mythodrama.

ÉPOCA - A obra de Shakespeare tem mais de 400 anos. Como pode ser usada para inspirar os líderes deste século?
Olivier - Além de ter sido o maior escritor dramático da História, Shakespeare tinha uma visão de mundo ampla. Sua obra sempre discutiu as responsabilidades dos personagens diante da sociedade e da natureza. Essa conexão é extremamente atual. Seus personagens podem ter sido reis e príncipes, mas eles têm dúvidas internas como qualquer pessoa de nosso tempo. Shakespeare é um professor espiritual para os líderes das empresas. Ele enxergou a natureza humana como poucos. Isso ajuda a explicar seu sucesso.

'Shakespeare ajuda as pessoas a recuperar a natureza humana no ambiente de trabalho. É especialmente recomendado a quem ocupa postos de comando'

ÉPOCA - É isso que o senhor aborda em seu curso? O que o treinamento tem de diferente dos cursos tradicionais para executivos?
Olivier - Temos uma abordagem mais criativa. Misturamos teatro com psicologia e desenvolvimento organizacional. Em vez de fazer uma apresentação em slides, lemos trechos das peças de Shakespeare e os inserimos no contexto empresarial. A peça Henrique V, por exemplo. Como um pequeno exército inglês pôde combater batalhões franceses mais numerosos e equipados? Como Henrique V motiva seus soldados? Do ponto de vista da liderança, o personagem enfrenta dilemas comuns a qualquer executivo. No primeiro ato da peça, Henrique define sua missão e aposta que vai cumpri-la. No segundo ato, ele negocia com os adversários. No terceiro, motiva a tropa. No quarto, na véspera da batalha, ele permanece recluso. Todo executivo já passou por essas etapas na véspera de alguma negociação importante.

ÉPOCA - Como o senhor transmite essas lições?
Olivier - Costumo utilizar quatro modelos de liderança, todos inspirados em Shakespeare. O Bom Rei é o líder encarregado de montar estratégias e analisar cenários. A Curandeira é a líder que usa a intuição e a criatividade para comandar os outros. A Grande Mãe tem como ponto forte a inteligência emocional e o diálogo. E o Guerreiro é o executor perfeito, aquele que alcança todas as metas. A maioria dos líderes tem no máximo duas dessas características combinadas. É muito raro encontrar alguém que tenha as quatro. Até hoje, não conheci nenhum. Por outro lado, ao encenar esses personagens, os líderes podem melhorar suas fraquezas.

ÉPOCA - Os executivos têm de atuar como atores diante dos outros?
Olivier - Sim. Há um provérbio chinês que diz: 'O que eu vejo, eu esqueço. O que eu leio, eu me lembro. O que eu faço, eu conheço'. É preciso treinar. Combinar mente, coração e corpo. Para encenar o Guerreiro, por exemplo, peço a eles que tentem se equilibrar numa bola ou fazer algum tipo de exercício físico. Para desenvolver o Grande Rei, debatemos soluções para problemas mundiais, como a pobreza e as guerras. Para encenar a Curandeira, coloco-os diante de uma mesa com várias peças de Lego e peço-lhes para criar algo novo, que nunca foi feito por ninguém. Por fim, a Grande Mãe surge quando cada um fala sobre sua vida pessoal, em sofás com refrigerantes e chocolates ao lado.

ÉPOCA - Os executivos aceitam esse tipo de treinamento?
Olivier - Todos sabem que têm pontos fracos. Mesmo os que se dão bem em uma ou outra atividade sabem que precisam melhorar. Por isso, todos entram na brincadeira. O objetivo é aprimorar as habilidades de liderança.
 

ÉPOCA - Algumas das grandes obras de Shakespeare terminam em tragédia. O curso ajuda os executivos a lidar com as derrotas?
Olivier - Esse é um ponto difícil de desenvolver. Ninguém gosta de lidar com o fracasso. Mas conseguimos, em algumas ocasiões, trabalhar o medo das pessoas. Um líder não pode negar nenhuma de suas grandes emoções. Muitos deles tentam diminuir o medo em sua vida, mas isso geralmente significa correr menos riscos. Dependendo da estratégia da empresa, isso pode ser inaceitável. Procuro usar a ligação de Shakespeare com a natureza. Ele ensina que não é preciso negar nenhum sentimento. Muitos executivos guardam suas emoções para sua família e usam apenas o cérebro no trabalho. Isso é perigoso. O medo da derrota deve ser explorado, pois é freqüente nas empresas. Muitos executivos são cobrados por metas impossíveis e são colocados em cargos que nada têm a ver com sua área de especialidade - e sem treinamento. É preciso lidar com isso, não fugir.

ÉPOCA - Qual peça o senhor usa para lidar com esses temores?
Olivier - Na maioria das vezes uso Henrique V ou pedaços de Macbeth. O ideal seria usar Hamlet, mas ainda não consegui adaptá-la. É uma peça muito complexa. Além disso, associar uma história de tragédia com o mundo dos negócios pode não ser uma boa idéia. Mas estou tentando transformar o suicídio de Hamlet numa lição de liderança.

ÉPOCA - Bons líderes precisam interpretar personagens? Eles têm de mentir?
Olivier - Mentir é uma palavra muito forte. Eles têm de atuar. Em muitas ocasiões, o líder precisa esconder o que está sentindo. Ele não pode aparecer triste e desmotivado no trabalho porque tem problemas em casa. Se estiver deprimido, deve interpretar um papel diferente e mais adequado

     Fonte: revista Época

     Nota: em maio haverá um curso ministrado pelo Prof. Theófilo Silva intitulado "Shakespeare aplicado ao mundo dos negócios". Mais informações   www.ib5.com.br

Comentários

  • por: Theófilo Silva em sábado, 25 de abril de 2015
    No final de maio estarei ministrando uma palestra pra executivos brasileiros no IB5. Até lá!

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