Comemora-se hoje o Dia do Livro.
Não há poder sem conhecimento. A famosa frase de Francis Bacon, "Conhecimento é poder" nunca foi tão atual. Seja o poder pessoal de viver, modificar e dar qualidade às nossas vidas, seja o poder político, do qual todos dependemos. Ter acesso a informações de qualidade é fundamental para que possamos ter o direito de dirigir adequadamente nossas ações, comandando segundo nossos propósitos, de decidir e de mandar nas questões que afetam nossas vidas.
As formas como acessamos as informações mudaram significativamente nos últimos anos. Se, por um lado, a quantidade e qualidade das informações melhoraram, a forma de acessá-las, nem tanto. Há um grande perigo hoje na formação da personalidade. Sem referências sólidas e éticas da escola e da família, algumas crianças e adolescentes, diante de qualquer dúvida ou necessidade de estudo, pesquisam sobre diversos temas na internet, navegando, sem recorrer aos livros, o que pode significar a formação de valores distorcidos.
A tecnologia google veio pra ficar. É irreversível, útil e pode nos ajudar a construir um mundo melhor, mais rápido e eficiente, sem dúvida. O grande questionamento é acerca da multiplicidade de alternativas disponíveis e a falta de critérios de direcionamento no acesso aos dados. A formação das novas gerações vai depender da qualidade de conhecimento que adquirir. Percebemos parte dos nossos jovens crescendo à luz dos enlatados, descartáveis, com excesso de recursos da tecnologia e facilidades, sem a sedimentação de questionamentos pela leitura de livros de boa qualidade.
Faz falta o incentivo ao acesso a uma literatura que solidifique nos jovens uma boa bagagem conceitual, que favoreça o espírito crítico e livre. Faz falta o mundo infantil de autores como Érico Veríssimo, Júlio Cortázar, Manoel de Barros, Adélia Prado, Clarice Lispector ou mesmo Monteiro Lobato, que apesar da polêmica de racismo dos últimos tempos, chama atenção para o papel político dos livros e para quem os espíritos livres são frutos de boas leituras. Aliás, sua genialidade pode ser vista, tanto em seus livros, quanto em suas ações. Lobato se envolveu em muitos assuntos de interesse nacional, desde campanhas sanitárias e educacionais até o questionamento da exploração de nossas riquezas naturais, como o petróleo, tão atual com a descoberta do pré-sal. É dele a frase "um país de faz com homens e livros", que reproduz, com pertinência, a ideia segundo a qual os países mais desenvolvidos do mundo são aqueles que investem em educação e cultura. A quantidade de livros que escandinavos, canadenses, americanos, australianos, ingleses e franceses lêem por ano superam, em muito, à nossa. Sem contar o número de bibliotecas, teatros, cinemas e centros culturais.
É preciso que nossas políticas sociais priorizem, na formação de jovens, o acesso aos livros e à cultura. Bibliotecas públicas, sempre abertas, com programas de incentivo à leitura, gincanas e atividades lúdicas relacionadas à educação integral serão fundamentais. Estamos num momento histórico e econômico propício a este desenvolvimento e precisamos resgatar práticas de boa qualidade, direcionadas à formação de uma sociedade mais participativa, consciente, que oriente as novas gerações de forma ética, o que só se fará por meio de "homens e livros".