Um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros ao redor do mundo, o bom baiano completaria 100 anos hoje.
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Passou a infância em Ilhéus e completou o secundário em Salvador. Nesse período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.
Em 1930, publicou O País do Carnaval, seu primeiro romance, e em 1935 formou-se em Direito. Dez anos depois, é eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, o PCB e, no mesmo ano, casou-se pela segunda vez, com a fotógrafa, escritora e também ativista política Zélia Gattai, sua grande parceira de vida.
Militante comunista, Jorge foi obrigado a se exilar no exterior, após o PCB ser declarado ilegal e muitos de seus livros, subversivos. Viveu primeiro na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), depois em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). De volta ao Brasil, deixa a política de lado para se dedicar de vez à literatura, com uma série de romances de muito sucesso: Gabriela, Cravo e Canela (1958), Os Pastores da Noite (1964), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966), Tenda dos Milagres (1969), Teresa Batista Cansada de Guerra (1972) e Tieta do Agreste (1977), todos adaptados para a televisão.
Em 1975, a estreia na Rede Globo da telenovela Gabriela, Cravo e Canela, dirigida por Walter Avancini, eternizou Sônia Braga no papel-título. A atriz voltaria a interpretar uma personagem de Jorge Amado logo depois, em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), longa-metragem que foi, até o lançamento de Tropa Elite 2, a maior bilheteria da história do cinema nacional. A atriz voltaria a interpretar Gabriela – e a trabalhar com o cineasta Bruno Barreto – no filme homônimo de 1983, contracenando com Marcello Mastroianni.
Inventor do Brasil moderno. Campeão da mestiçagem. Pregador do sincretismo. Retratista de um país colorido e multirracial, mas também desigual, machista e violento. Cabem muitas descrições à obra de Jorge Amado e elas podem ir da qualidade literária à representação social de uma nação que começava a se descobrir, ou a “se apalpar”, como escreveu Antonio Candido.
A história literária do baiano de Itabuna, começa com O país do carnaval e se encerra com O milagre dos pássaros, em 1997, mas o que há no meio é um mundo de gente brasileira carregada da diversidade que tanto arrebatava o escritor. “Ele, definitivamente, fez parte de uma segunda geração modernista que nos ensinou a ver o Brasil. Incluiria nesta vertente José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Érico Verissimo. Antes deles, o Brasil não se olhava e se desconhecia. Eles nos mostraram que temos uma história, um contexto e características muito singulares. Se houve exagero, se houve idealismo, como já foi apontado, é uma outra questão”, repara a tradutora e ensaísta Ligia Cademartori.
Academia Brasileira de Letras inaugura exposição do centenário de Amado
Poucos escritores tiveram importância comparável à de Jorge Amado em sua contribuição para a formação de um público leitor no Brasil. Sua obra marca o imaginário brasileiro, desde a década de 1930, quando começou a publicar romances e iniciou uma carreira de sucesso que logo ultrapassaria as fronteiras do nosso país.
Ao homenagear Jorge Amado na comemoração do centenário do seu nascimento, a Academia Brasileira de Letras ao mesmo tempo evoca sua trajetória e lembra a relação amorosa ou polêmica dos leitores com sua obra. Paralelamente a toda e qualquer comemoração programada pela ABL para este ano, em parceria com universidades e instituições culturais de quatro países da Europa — França, Inglaterra, Espanha e Portugal — além do Brasil, propomos principalmente releituras que permitam uma construção crítica do papel que ele desempenhou e do lugar que ocupa na literatura brasileira.
A ABL inaugurou no último dia 31 a exposição denominada Jorge Amado — 100 anos. Essa exposição aponta alguns pontos de referência nesse caminho. Personagens inesquecíveis, cenários marcantes, situações emblemáticas povoam seus romances. Sempre construídos numa linguagem viva, brasileira, captada por fino ouvido, falado por gente comum nas ruas todo dia.
Salve Jorge!
Fonte: Correio Braziliense e O Globo de hoje.