Basta de povo corrupto - Theófilo Silva
Toda vez que a mediocridade, a mentira, a empulhação, a safadeza e os conchavos recrudescem numa sociedade já caracterizada como corrupta, como é a nossa, e nos sufoca, como está acontecendo agora, levando as pessoas de bem ao mais completo desânimo, procuramos consolo em algum lugar. O meu refúgio é Hamlet. Na verdade, Shakespeare! Mais embaixo, eu digo como ele me socorre. Porque ainda sou um iludido, daqueles que acreditam tolamente que o Brasil tem jeito. De repente, as ações inesperadas vindas da sociedade, como as recentes manifestações – pacíficas e legítimas, não vandalismo fascista – me deram alguma esperança de mudança, pois eu achava que o país ia avançar alguns metros. Foi quando ficou claro que tudo não passa de uma fraude, que o brasileiro é desonesto, e que as coisas vão permanecer como antes.
Vejam bem, o Supremo Tribunal Federal acabou de condenar a, quatro anos e oito, meses de prisão, um corrupto – dono de uma ficha criminal quilométrica – governador, senador por Rondônia, Ivo Cassol, no entanto esse salafrário não perderá o mandato, continuará como senador atrás das grades. É ou não é assustador? O Supremo Tribunal Federal entende que mesmo condenado definitivamente e preso, ele pode exercer o mandato. E com o voto daquele novo e festejado ministro Roberto “ponto fora da curva” Barroso, que chegou ao STF como um Deus ungido. A única coisa boa nessa palhaçada é que agora teremos senadores e deputados presidiários, legislando dentro do presídio. Uma inovação brasileira. O que não dirá o resto do mundo: as evoluídas nações do Zimbábue, Botswana, Indonésia...
Continuando o círculo de horrores, do outro lado, na sociedade civil, nulidades estão se transformando em celebridades. Todo e qualquer analfabeto que diga algo ou poste qualquer protesto nas redes sociais é catapultado à categoria de jornalista combatente, gênio, revolucionário etc. Tudo por causa do medo da imprensa escrita com as novas mídias que estão atropelando-a. A tal Mídia Ninja é uma seita de fanáticos cujo objetivo é a anarquia e o tumulto.
Nas ruas, grupos de vândalos organizados estão agindo de forma semelhante aos que proliferavam na Alemanha pós Primeira Guerra Mundial, quando o país foi tomado por falanges, milícias de jovens desordeiros armados, prontos a atacar qualquer coisa que se movia, cujo único lema era a violência pura e simples. A diferença, para os grupos daquela época e os de agora, é que estes dizem que estão lutando em nome da democracia, da defesa de seus direitos, usurpados pelo estado. Mentira. Sabemos como esse comportamento acabou na Alemanha: no nazismo, gerando o regime mais brutal da história da humanidade.
Para esses anarquistas e desordeiros, claramente financiados por políticos corruptos, temos um governo despreparado. Mas isso não é justo. É bom dizer que temos uma sociedade despreparada, uma imprensa despreparada, um povo preguiçoso que espera tudo do governo. Continuamos sendo um povo que não limpa nem a frente nem o quintal de sua casa, esperando o estado o faça. Se o estado não está conseguindo limpar a frente da minha casa, então por que eu mesmo não o faço? Como fazem os americanos e canadenses!?
Mais do que em qualquer época, no Brasil de hoje, quase tudo é resolvido na base do conchavo, da troca de favores, de benesses e cargos. Num conluio imoral entre o poder judiciário e a classe política. Condenações são trocadas por nomeações nos tribunais, de parentes e dos próprios juízes. O sujeito é escalado para ser juiz e atuar no caso que interesse aos legisladores e aos governos. Isso está ficando límpido e claro nos últimos tempos. Sempre foi, mas agora a coisa está descarada. Estamos vivendo um dos momentos mais vergonhosos da história do Brasil. E essa safadeza está gerando e dando incentivo para que os fascistas – os manifestantes verdadeiros não entram nisso – ocupem as ruas e se comportem como os bandidos de toga e os homens públicos venais que arrombam e destroem o estado por meios do roubo silencioso e sem violência.
Quando vejo esses representantes do estado de terno Armani, sorridentes e de voz empolada, cobertos de falsa respeitabilidade, com discursos amparados no Direito, lembro-me de Hamlet referindo-se ao corrupto rei Claúdio, da Dinamarca: “Porque é possível sorrir, sorrir e ser canalha!”
É isso!