No livro temos uma série de relatos. Os pacientes são diagnosticados com uma doença num estágio onde a cura tem mais a ver com milagre do que com as possibilidades reais da medicina. Diante do fato, Varella menciona casos que vão desde o desespero a aceitação, tanto do paciente, quanto da familia.
Durante o tratamento para prolongar a vida, temos pessoas que simplesmente reaprendem a viver com extrema intensidade até mesmo aquele que fica resguardado em sua tristeza a espera do seu ultimo dia. Entretanto, a serenidade acaba por trazer-lhes uma espécie de sabedoria que está além do entendimento de uma pessoa que está no vigor de sua vida.
Dentre os relatos temos desde crianças que já não se importam em ter os seus membros mutilados – de modo que isto representa até mesmo um alívio diante da possibilidade de vida – até mesmo aqueles que, sabendo que nada mais poderia ser feito, antecipam o iminente momento ao deixar de se alimentar ou tomar remédios. Têm aqueles que se agarram numa causa religiosa, e na esperança de uma vida do outro lado sentem-se confortável para enfrenter o momento com calma, e outros que somente acreditam na vida terrena, de modo que a angústia por trás dos últimos momentos fazem com que busquem deixar todas as pendências resolvidas e também passar tranquilidade para a familia. Tem também aquele que dedicou toda a sua vida a salvar outras vidas, e ainda assim é vitíma deste destino a qual ninguém pode escapar, como no caso do irmão de Varella, também médico oncologista e ainda assim não perdoado por este mistério que é a existência.
Enfim, este é um livro rápido, curto e gostoso de ler. O que poderíamos aprender com estas pessoas? Muito. Ao refletirmos sobre a nossa morte, também aprendemos que temos um tempo indeterminado para viver. Conscientes que nem sempre estaremos aqui, talvez podereos antecipar aqueles planos que sempre ficam para amanhã: ler aquele livro que sempre lhe chamou a atenção, ver aquele filme que sempre ficou para um final-de-semana que nunca veio, fazer a viagem para o exterior que você havia prometido a si na última férias, escrever suas palavras num pedaço de papel, plantar uma árvore, se reencontrar com velhos amigos, participar de atitude comunitária, dizer o quanto você ama os teus pais e o quanto eles são importantes em sua vida, levar os teus filhos no parque da Xuxa e no parque da Mônica, trabalhar menos, assistir menos o telejornal, nadar pelado em uma praia e tantas outras coisas que não cabe citar aqui.
É preciso planejar a sua morte. É preciso pensar que você nem sempre estará aqui. Chore agora, enquanto você tem um bom tempo para viver, para então você aceitar que este é o destino de todos e que a vida é assim mesmo, com seus mistérios indecifráveis.
Só tomando consciência da morte saberemos o que é viver, pois enquanto isto não acontece estamos tão distraídos com fatores mundamos e superficiais que esquecemos ainda hoje poderemos morrer. Embora pareça que este é um pensamento mórbido, afirmo que não é. Muito pelo contrário é uma forma de você não deixar as coisas para amanhã e que assim que nascemos as areias do tempo começam a descer pela ampulheta.
Autor: Evandro Venâncio Blog
* Drauzio Varella (São Paulo, 1 de janeiro de 1943) é médico oncologista e escritor brasileiro, formado pela Universidade de São Paulo, na qual foi aprovado em 2° lugar, conhecido por popularizar a medicina, através de programas de rádio e TV. Foi também um dos fundadores da Universidade Paulista e da Rede Objetivo, onde lecionou física e química durante muitos anos. No início dos anos 70, já como médico, ele começou a trabalhar com o professor Vicente Amato Neto na área de moléstias infecciosas do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Durante 20 anos, dirigiu também o serviço de imunologia do Hospital do Câncer (São Paulo) e, de 1990 a 1992, o serviço de câncer do Hospital do Ipiranga. Deu aulas em várias faculdades do Brasil e em instituições em outros países, como o Memorial Hospital de Nova Iorque, a Cleveland Clinic (também nos Estados Unidos), o Instituto Karolinska de Estocolmo, a Universidade de Hiroshima e o National Cancer Institute, em Tóquio. Além do câncer, Drauzio Varella dedicou seu trabalho ao estudo da AIDS. Foi um dos pioneiros no estudo dessa doença no Brasil, especialmente do sarcoma de Kaposi. Em 1989, iniciou um trabalho no Carandiru (nome popular da "Casa de Detenção de São Paulo"), investigando a prevalência do vírus HIV nos detentos.