RealDoll: será o fim dos tempos?
Não ouse chamá-la de boneca inflável, pois ela pode chorar. A empresa Californiana Abyss Creations desenvolveu muito mais que isso: detentora de um esqueleto de PVC, articulações de aço, carne/pele de silicone de platina (qualidade médica), a RealDoll se parece, espantosamente, com uma mulher.
Quem já teve a oportunidade de visitar um museu de cera, daqueles que precisamos olhar para o manequim por um momento a mais na espera que ele se mova, devido ao impressionante realismo, atribuirá, sem falsos exageros, o mesmo grau de similaridade a essa boneca. Ela é, todavia, diferente dos manequins de cera que são protegidos por um cordão para a proteção da arte: a RealDoll lhe quer muito mais perto. Dentro, preferencialmente.
É despindo essa boneca de tamanho e peso humano que podemos compreender sua verdadeira razão de existir: sexo. É possível ter uma relação vaginal, oral e anal com essa boneca, sendo que todos os orifícios respeitam criteriosamente a sensação estabelecida pela via escolhida. Segundo o site, durante o sexo oral é criado dentro dela um vácuo que forma uma expressiva pressão de sucção. Graças a sua textura de silicone realista, pode ser lubrificada, aquecida com cobertores térmicos para igualar-se à temperatura do corpo de um humano, e ainda maquiada, vestida... Podemos até manipular suas expressões faciais - enfim! É uma Barbie para homens por 6.900,00 dólares.
Agora, exercendo um olhar mais demorado, quais são as acareações deste protótipo humano? Enganam-se aqueles que pensam que o público consumidor deste produto são jovens imaturos ávidos por jorrar seus hormônios em qualquer lugar que sua agitada imaginação possa levar-lhes. Atentamos, por exemplo, para um cliente japonês de 45 anos que comprou mais de 100 bonecas, gastando cerca de 170 mil dólares com o produto, afirmando: “As mulheres de verdade podem me enganar, me trair. Estas são 100% minhas.” Um verdadeiro sultão do polipropileno que não está sozinho.
A maioria dos testemunhos dos consumidores transgridem o âmbito do solitário prazer. Eles relatam suas experiências com a boneca denotando um verdadeiro vínculo afetivo, absolutamente diferente da masturbação “convencional”, com as próprias mãos movidas por pensamentos ou imagens. Muitos não compraram uma boneca e, sim, uma companheira.
Outro testemunho soberbo é de um cliente solitário que tinha como companhia um gato. Após pesquisar muito e finalmente comprar a RealDoll, sentiu-se temeroso pela reação que o bichano poderia ter - o que faz muito sentido, uma vez que um gato costuma utilizar objetos inanimados para afiar suas unhas, por exemplo. Foi quando, evidentemente emocionado, o comprador tirou sua boneca cuidadosamente dos embrulhos e a pôs sentada na cadeira da cozinha. Ele afirma que se sentiu constrangido, era como se tivesse realmente uma pessoa naquele solitário lar olhando para ele. Seu gato entrou na cozinha e sua preocupação aumentou. Entretanto, o bichano delicadamente subiu no colo da boneca e lá se enrolou para uma soneca. O consumidor se sentiu afortunado: era como se o seu animal de estimação tivesse aprovado a sua nova companhia.
A empresa Abyss, ciente desta tendência de mercado em fulminante eminência, já utiliza a robótica a seu favor para no futuro torná-la ainda mais interativa, algo que faria filmes como Inteligência Artificial deixarem de ser tão impalpáveis. Jolie recebendo uma fortuna para liberar os direitos de sua imagem em uma produção infinita de clones robóticos: estou indo muito longe? Quem sabe.
Mas talvez trocar a companhia humana por outra artificial seja inclusive algo natural. Recentemente, as invenções do homem visaram facilitar a aproximação das pessoas de uma forma confusamente distante. Conversar por um fio, por telas com fotos, gelado e prático. Logo, transar com robôs não é algo tão inimaginável, uma vez que conveniência é a palavra que rege a conduta.
Fonte: http://obviousmag.org/archives/2011/10/baby_youre_such_a_doll.html