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Sai barato para quem mata

Enviado por Gilberto Godoy
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       Alon Feuerwerker via Blog do Alon

      Bons advogados (eles apenas fazem seu trabalho) serão perfeitamente capazes de usar, em benefício de quem pode pagar, os mecanismos teoricamente destinados a proteger quem não pode ser preso.

     Faz refletir o monstruoso assassinato da estudante de Direito aqui em Brasília, morta pelo professor inconformado com o fim do relacionamento. Toda violência é reprovável e toda morte provocada merece um adjetivo forte, mas este caso vai além.

     A má sociologia produziu entre nós um discurso intelectual predominante sobre a violência. Seria produto de causas macrossociais. Como a pobreza e a falta de acesso a bens e serviços trazidos pela civilização.

     Inexistiria portanto uma maldade “não social”. A perversidade seria resultado do meio, das circunstâncias, do ambiente. É o pensamento trazido pelo extenso fio condutor iniciado lá atrás com a teoria do bom selvagem.

     A coisa é conveniente, pois permite transferir a responsabilidade de modo seletivo.

     Se o rico comete um crime, a culpa é dele mesmo. Como no caso do Porsche em altíssima velocidade no Itaim, em São Paulo. Mas se o criminoso é pobre, a culpa é da sociedade. Melhor dizendo, da elite.

     Esse arcabouço intelectual apresenta alguns problemas. O primeiro é não bater com a realidade.

     O mapa da pobreza não é o mapa do crime e da violência. Um exemplo? O Nordeste urbano foi nossa região cuja economia mais cresceu, onde mais se distribuiu renda nos anos recentes. E também onde mais aumentou a criminalidade.

     Outro problema é a teoria oferecer um alicerce quase afetivo à condescendência com o crime. Este seria, talvez, uma forma primitiva de rebelião contra a injustiça. E portanto deveria ter reconhecido o vetor progressista.

     Tudo isso é bem complicado, especialmente por exigir generalização. O Código Penal ainda não prevê, por exemplo, aplicação de pena maior para o homicida conforme o valor do contracheque. Então a condescendência tende a universalizar-se.

     E bons advogados (eles apenas fazem seu trabalho) serão perfeitamente capazes de usar, em benefício de quem pode pagar, os mecanismos destinados a proteger quem não pode.

     Convenhamos, tem algo bem errado nisso.

     Quem entende do assunto garante: o problema não está na leveza das penas, mas na alta probabilidade de o criminoso escapar da punição. Recolho a opinião e respeito-a.

     Entretanto, teorias à parte, matar alguém no Brasil acaba saindo relativamente barato para quem matou.

     Há exceções, quando a comoção popular ultrapassa certas fronteiras e constrange as autoridades. Como no caso dos Nardoni. Mas não é rotina.

     Qual seria uma pena razoável para o professor assassino de Brasília? Vamos deixar de lado a pena de morte, cujo debate traz questões filosófocas impossíveis de encaminhar hoje neste espaço de maneira minimamente razoável.

     Mas, digam uma coisa. Algo justifica não aplicar neste caso pelo menos a prisão perpétua? Não seria vingança, mas equilíbrio. A perda da filha será perpétua para o pai humilde cujo sonho era ter uma advogada na família.

     É uma polêmica difícil. Assim como a da idade na qual alguém finalmente pode ser responsabilizado pelos atos. A tal maioridade penal. Por que diferir o tratamento do sujeito de 17 anos e 364 dias e daquele só dois dias mais velho?

     Sempre é possível extrapolar o raciocínio ao absurdo, e daí objetar que, sendo assim, uma criancinha deveria receber o mesmo julgamento do adulto plenamente formado.

     Mas é diletantismo. Na prática, as quadrilhas têm seus próprios “menores” encarregados de aproveitar as brechas da lei.

     Um debate infindável.

     Mas enquanto se discute, segue a vida. Há a necessidade imperiosa de produzir uma nova moldura jurídico-social capaz de reduzir a probabilidade de alguém ser vítima de um ato criminoso.

     Penas mais severas, menos atalhos jurídicos para escapar, mais bandidos presos. Não é tão difícil assim. Falta apenas quem não se deixe intimidar e esteja disposto a carregar a bandeira.

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