Alguns economistas do desenvolvimento econômico sustentável, entre eles Ladislau Dowbor, no Brasil, vêm escrevendo há algum tempo sobre a necessidade de se implantar um novo indicador de riquezas, em substituição ao PIB, que, na atual conjuntura global — em que os recursos não renováveis e a qualidade de vida são contabilizáveis como patrimônio social –, não mais representa evolução econômica, e que o modelo econômico sob o qual vivemos é injusto, excludente e excessivamente concentrador de riqueza e bem-estar.
Há pouco tempo, dizia-me Dowbor que estava em discussão a instituição, por organizações sociais, instituições diversas e até por grandes empresas mundiais, do FIB (Felicidade Interna Bruta), indicador criado no pequeno Butão, país do Himalaia, levando em conta diversos índices de desenvolvimento social.
Uma das divugadoras do FIB no Brasil, Mônica Cristina Landin, informa que esse indicador observa nove dimensões inter-relacionadas: 1 – Padrão de Vida; 2 – Boa Governança; 3 – Estado de Saúde; 4 – Educação; 5 – Diversidade Cultural; 6 – Resiliência Ecológica; 7 – Vitalidade Comunitária; 8 – Uso Equilibrado do Tempo; e 9 – Bem-estar Psicológico e Espiritual, além dos benefícios que a longo prazo sua implantação poderá trazer para as comunidades que compõe o país, para pessoas e até para empresas, oferecendo indicadores que irão nortear melhor as decisões governamentais, empresariais e pessoais.
Se alguém pensa que isso é coisa inventada por ativistas sociais, está completamente enganado. A concepção foi do quarto rei do Butão, ainda na década de 1970, que o assumiu em todo o seu longo reinado de 34 anos, e agora jurado pelo novo rei, Jigme Khesar, recentemente coroado. Diversas conferências internacionais já foram realizadas para discutir esse indicador e suas implicações, e na última havia representantes governamentais de 25 países.
No seu discurso de coroação, o rei Jigme Khesar jurou que “quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes”.
Fiquei surpreso, ontem, em conferência do diretor de coordenação e meio-ambiente da Usina Hidrelétrica da Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, no Seminário Internacional “Gestão de Políticas Regionais em Perspectivas”, em Florianópolis, onde apresentou casos de ações sociais que essa empresa está realizando em parceria com governos e comunidades de sua região de atuação, e percebi que o conceito era o do FIB. Ao final da conferência, perguntei-lhe sobre isso, e ele confirmou. Disse inclusive que esteve no Butão para verificar in loco os exemplos que aquele país vem dando ao mundo em termos de democracia econômica e bem-estar social.
O primeiro-ministro do Butão esteve em Foz do Iguaçu para explicar esse conceito de desenvolvimento. A maioria dos palestrantes deste seminário, alguns deles grandes personalidades da economia mundial, como Ignacy Sachs, discursam no mesmo sentido.
Quer dizer: tudo indica que o mundo começa se interressar pelo desenvolvimento econômico, em vez do crescimento econômico; em buscar a felicidade, em vez do dinheiro.
Fonte: blog Adalberto Franklin - Cultura, História, Cidadania.