Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Somos todos desonestos - Ricardo Amorim

Enviado por Gilberto Godoy
somos-todos-desonestos---ricardo-amorim

   Era uma vez um jovem honesto e idealista que, um dia, descontente com o rumo do país, resolveu entrar para a política. Seu objetivo: mudá-lo para melhor. Em sua terceira campanha eleitoral, finalmente se elegeu vereador.

   Eleito, ele começou a enfrentar dificuldades na Câmara Legislativa Municipal. Três anos depois, nada do que propôs havia sequer sido votado, quanto mais aprovado. Enquanto isso, diversos de seus colegas aprovavam tudo o que queriam, normalmente apenas em benefício próprio.

   As eleições se aproximavam e, com elas, a necessidade de financiamento para a próxima campanha e de alguma realização para apresentar a seus eleitores. Ele resolveu que, em nome de um bem maior, seu projeto de um país melhor, por uma única vez aceitaria participar de um esquema ilícito para aprovar seu projeto e financiar a campanha. Afinal, o que era uma única “pequena” irregularidade em relação a seu importante e grandioso projeto?

   Depois disso, ele se elegeu deputado estadual, deputado federal e há mais de 20 anos é senador. Nesse meio tempo, aprovou inúmeros projetos. Hoje, é rico, poderoso e invejado. O jovem que 40 anos antes quis entrar para a política para mudar o país não o reconheceria. Ele virou político para combater pessoas como a que ele mesmo acabou se tornando.

   Cercado por outros corruptos, hoje ele sequer acha que o que faz é corrupção. É apenas a forma como as coisas são feitas. Nós, seres humanos, temos a habilidade de acostumarmo-nos com quase qualquer situação, o que é muito útil para lidar com as mudanças que a vida sempre traz. Infelizmente, esta habilidade vem com um grande ônus. Nós nos acostumamos e consideramos normal o que a maioria está fazendo, principalmente se incluir nosso próprio grupo social. Até ao nazismo, em um dado contexto histórico, muitos acabaram se acostumando e até aderindo. No Brasil, acostumamo-nos com a corrupção.

   A percepção é que a maioria é corrupta. Trouxas são os que não aproveitam as oportunidades de benefícios próprios que determinados cargos ou situações criam.

   Essa percepção acaba determinando as ações de muitos e criando uma profecia auto-realizável. Se você acha que essa história só vale para políticos e empreiteiros, atire a primeira pedra quem nunca traiu a namorada, colou na prova ou guiou no acostamento.

   O mesmo sujeito que joga uma garrafa na rua e se queixa de como sua cidade está suja não joga nem uma bituca de cigarro e elogia a limpeza quando viaja para Miami ou Cingapura. O padrão aqui é sujar e reclamar. Lá, é cuidar e elogiar. A pessoa é a mesma. Precisamos criar condições que estimulem os comportamentos que queremos. A cidade de Nova York, onde morei por quase dez anos, é famosa por ter reduzido radicalmente a criminalidade e a sujeira com tolerância zero a ambas. Aqui, precisamos estender a tolerância zero a todos os padrões errados com os quais nos acostumamos. Aceitando pequenos delitos abrimos a porta para delitos cada vez mais graves, até que eles se tornam a norma.

   No Japão, um político corrupto sente tanta vergonha quando descoberto que, muitas vezes, se suicida. No Brasil, até recentemente, políticos corruptos sequer temiam ser punidos.

   Tomara que a Operação Lava Jato e punições severas aos culpados comecem a criar uma nova cultura no país, mas se queremos, realmente que o país mude, temos antes de mais nada que ser a mudança que queremos ver.

   Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria  

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    Um soldado americano que participou de várias guerras descreve sua percepção sobre o que é uma Guerra, quem são terroristas, o que faz países declararem guerra e as consequências destas contingências aversivas e irremediáveis. "Os nossos verdadeiros inimigos não estão em um país distante..."   (continua)


  •    Faz pelo menos 500 anos que o mundo está se tornando um lugar cada vez mais seguro para se viver, e a raça humana nunca foi tão pouco violenta. Ataques terroristas e guerras civis são meros soluços estatísticos numa paz que nossos ancestrais achariam quase impensável. Duro de engolir, certo?   (continua)


  •    Em termos de evolução, a espécie Homo sapiens é extremamente bem sucedida. As populações de outras espécies posicionadas semelhantes a nós na cadeia alimentar tendem a chegar, no máximo, na casa dos 20 milhões. Nós, pelo contrário, levamos apenas...   (continua)


  •    Daqui a algumas décadas – quando esses inícios do século 21 estiverem em definitivo no passado – é provável que nos lembremos deles como um “medievo de medo”. E sobre o medo diremos que corrói as relações sociais – e, com elas, todo o resto, qual cupim na madeira.   (continua)


  •    Segundo um dos diretores da NASA, um cientista planetário chamado Rich Terrile, nossa vida poderia ser em realidade parte de uma simulação de computador programada por um homem do futuro entediado. Não o nosso, em realidade seríamos os personagens controlados que estão...   (continua)


  •    Gioconda Gordon - Gazeta Mercantil
       O título do livro do sociólogo polonês Zigmunt Bauman é sugestivo e, sobretudo, apropriado para um sentimento que não se submete docilmente a definições. Professor emérito de sociologia nas Universidades de Varsóvia e de Leeds, na Inglaterra...   (continua)


  •    Investigador norte-americano criou mapa animado que sintetiza manifestações de todo o mundo ao longo de mais de três décadas. Calcanhar de Aquiles: só reúne protestos noticiados. O Brasil, um dos colossos da geografia mundial, é um dos países mais...   (continua)


  •    Os brasileiros, em geral, acham que o mundo todo presta, menos o Brasil. Realmente parece que é um vício falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam os negativos.   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília