Ativos e passivos financeiros - Fábio Almeida
O livro “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, é um sucesso de vendas no mundo todo. Muitos o classificam como um livro de “auto-ajuda” e, embora eu mesmo considere desnecessários muitos dos ensinamentos (e muitos dos outros livros de Kiyosaki, que basicamente repetem o conteúdo do primeiro livro), acredito que há duas lições importantíssimas na obra.
A primeira delas é: fuja da corrida dos ratos! A corrida dos ratos, ilustrada pela foto acima, caracteriza bem a vida da maioria de nós, mortais: somos criados e educados para conseguir uma qualificação acadêmica mínima para entrar no mercado de trabalho e seguir uma carreira, com o objetivo de ganhar um bom salário, suficiente para um bom padrão de consumo. Mal ganhamos o primeiro salário e as despesas começam: comprar roupas melhores, adquirir um carro, ir aos melhores restaurantes, às melhores boites, e alguns começam a pensar em comprar uma casa ou um apartamento.
Os filhos chegam e, para compensar o aumento nas despesas, os pais passam a trabalhar mais, seja cumprindo horas extras, seja arrumando um outro trabalho. De repente, o casal se toma conta de que, embora ganhem um bom salário, eles não vêem o destino daquele dinheiro todo. Pior ainda, percebem que não têm um único tostão poupado para a velhice. Em outras palavras, trabalham para todo mundo, menos para si mesmos. Trabalham para a empresa, com seu suor; para o governo, com o pagamento de impostos; para o banco, pagando eventualmente juros de cheque especial ou no cartão de crédito; para a construtora, pagando o financiamento da casa. Forma-se, assim, um ciclo vicioso, bastante parecido com a roda em que os hamsters brincam, na qual eles correm, correm, correm e não saem do lugar. Quanto mais ganhamos, mais gastamos; e como gastamos mais, precisamos ganhar mais. Como sair desse ciclo?
A resposta de Kiyosaki e Lechter a essa pergunta é o outro conceito a que me referi: a distinção entre ativo e passivo. Muitas pessoas compram uma casa pensando que estão adquirindo um ativo, mas na verdade estão adquirindo um passivo. Basicamente, para os autores, um ativo é todo bem adquirido que gera uma renda passiva para o comprador – uma renda que será auferida sem a necessidade de trabalho. Um passivo, por outro lado, é todo bem ou gasto que gera apenas despesa, sem retornar na forma de uma renda. Como eles bem resumem: “Um ativo é algo que põe dinheiro no meu bolso. Um passivo é algo que tira dinheiro do meu bolso”.
Muitas pessoas adquirem um automóvel ou uma casa achando que têm um bom patrimônio. Mas o automóvel só gera despesas com a manutenção e se desvaloriza a cada mês. Uma casa pode se valorizar (ou não, dependendo do imóvel), demanda despesas para manutenção e, se é utilizada pela própria pessoa, não gera renda alguma – apenas impede que se gaste dinheiro com aluguel. Mas, como vimos em outro post, dadas certas circunstâncias, pagar o aluguel por um tempo pode não ser tão ruim. Se a casa ou o apartamento são alugados, podem gerar uma renda passiva – e aí são considerados ativos. Os próprios automóveis podem ser considerados como ativos, se geram renda passiva: um dono de uma empresa de táxis ganha seu dinheiro a partir dos automóveis adquiridos, por exemplo.
Como se pode observar pelos exemplos acima, é difícil dizer, sem maiores considerações, se um bem é ativo ou passivo. Um carro ou uma casa podem ser ativos ou passivos. Mas, para fugir da corrida dos ratos, é importante adquirir mais ativos que passivos: se, com o tempo, o investidor tiver sucesso na aquisição de bons ativos (ações, títulos do governo, imóveis, etc), é possível que a renda passiva gerada por eles seja mais do que suficiente para pagar o passivo do investidor. Ou seja, o objetivo principal da aquisição de ativos é gerar um fluxo de caixa suficiente para pagar as despesas mensais: alcançado esse objetivo, é perfeitamente possível dizer que o investidor é uma pessoa rica, alguém que não precisa trabalhar para viver. Claro, dependendo dos objetivos do investidor, o fluxo de caixa pode ser aproveitado para gerar ainda mais fluxo de caixa: ao receber dividendos ou aluguéis, o investidor pode reinvesti-los na aquisição de mais ativos. Com o tempo, a renda gerada pelos ativos pode ser tão superior ao salário mensal que as despesas podem ser aumentadas também, sem maiores preocupações.
De acordo com Kiyosaki e Lechter, o que diferencia o perfil do fluxo de caixa de uma pessoa pobre, de classe média e rica é o modo como se dá a relação entre ativos e passivos. Alguém pobre, que mal consegue ganhar para viver, simplesmente não tem dinheiro para obter ativos e passivos: toda sua renda salarial se esvai no pagamento das despesas diárias. Uma pessoa padrão da classe média, por sua vez, utiliza sua renda salarial (renda ativa) para o pagamento das despesas diárias e para o pagamento de passivos (financiamento imobiliário, empréstimos e cartão de crédito). Já as pessoas ricas utilizam sua renda ativa (fruto de seu trabalho) e sua renda passiva para adquirir mais ativos. Claro que nem toda a sua renda é utilizada para adquirir mais ativos; é razoável que alguém financeiramente independente possa se dar ao luxo de adquirir passivos (casas, iates, bons automóveis, etc). Mas o ponto é que a proporção dos passivos será muito menor do que a dos seus ativos.
Fonte: blog O Pequeno Investidor
Sobre o autor - Fábio Portela é investidor desde 2006 e disponibiliza neste site seus conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, seja com sua experiência, seja por meio das leituras que fez ao longo dos anos. O autor é mestre em Direito Constitucional e em Filosofia pela UnB, e atualmente cursa doutorado em Direito Constitucional na mesma instituição.