Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Para aonde vai a China? - Maria Clara do Prado

Enviado por Gilberto Godoy
para-aonde-vai-a-china----maria-clara-do-prado

   Insatisfação era esperada em uma China mais urbanizada, mais rica e com mais acesso à informação. 

   O FMI previu na semana passada que o PIB da China deverá crescer ao redor de 7,5% este ano e de 7,3% em 2015, repetindo, portanto, nível próximo dos 7,7% de expansão registrado em 2012 e em 2013. A estas taxas de variação, a economia chinesa cresce por ano, hoje, praticamente a metade do extraordinário resultado alcançado em 2007, um ano antes da crise financeira dos "sub primes" nos Estados Unidos.

   A menor evolução do PIB chinês nos últimos anos, coincidentemente ou não, tem ocorrido em paralelo às demonstrações de descontentamento da sociedade civil que podem ameaçar seriamente o poder do partido comunista. Pouco se fala no Ocidente a respeito dos movimentos populares que têm clamado por maior liberdade de opinião e de organização na China. No entanto, eles existem e têm sido crescentes, envolvendo não apenas reclamações menores quanto ao funcionamento e à corrupção dos governos locais, nos diversos municípios - às quais o comitê central tem fechado os olhos - mas núcleos de insatisfação contra o autoritarismo do governo nas grandes cidades.

   Isso, em verdade, era de se esperar em uma China mais urbanizada, com mais acesso à informação e com melhores níveis de renda. 

   O tema está no foco dos debates em Washington e tem sido largamente acompanhado por organismos especializados em assuntos internacionais. Na semana passada, foi assunto de um seminário organizado pelo Ned - National Endowment for Democracy, uma instituição sem fins lucrativos dedicada a avaliar o grau de abertura política em diversos países do mundo e a dar suporte a grupos e pessoas que se insurgem contra ditaduras ou governo autoritários.

   "Will China Democratize?" ("A China vai se Democratizar?") é o título do livro, com uma coletânea de artigos publicados no Journal of Democracy (ligado ao Ned), que deu margem ao seminário. O livro foi coordenado pelo cientista político Andrew Nathan da Universidade de Columbia, por Larry Diamond, especialista em assuntos internacionais da Universidade de Stanford e por Marc Platter, vice presidente de pesquisa e estudos do Ned.

   Para Minxin Pei, professor de assuntos governamentais e diretor do Keck Center for International and Strategic Studies (Centro de Estudos Estratégicos e internacional) do Claremont McKenna College e um dos palestrantes do seminário, a questão que deve ser colocada não é se a China vai se democratizar, mas quando e como. Ele entende que pelo menos dois grandes fatores têm contribuído para induzir a mudança política na China: o fato de que 50% da população nasceu depois de 1976 - ano da morte de Mao Tsé Tung - e a alta taxa de escolaridade que tem colocado cerca de sete milhões de estudantes por ano na educação de nível superior. 

   Mas Minxin Pei cita ainda um terceiro motivo: "a decadência institucional interna do sistema político". Baseado em relações pessoais que favorecem a corrupção, o PCC - Partido Comunista Chinês - tem se valido cada vez mais de instrumentos de pressão para manter o poder diante da crescente oposição da sociedade civil chinesa. Ele não vê nenhum movimento do partido no sentido de uma reestruturação política nos moldes, por exemplo, da reforma gradual e controlada que orientou o processo de abertura introduzido por Mikhail Gorbachev na antiga União Soviética.

   Vale aqui um parêntesis para deixar no ar uma reflexão sobre a influência que os recentes movimentos autoritários de Vladimir Putin, com nítidos objetivos de ampliar as fronteiras da Rússia, pode ter sobre as perspectivas de mudança política na China. É algo para se pensar. A questão não foi mencionada no seminário do Ned.

   De todo modo, a problemática chinesa depende basicamente dos problemas internos e parece mais relacionada, como Pei destacou, à taxa de expansão da economia. Ele considera inevitável uma redução no nível do crescimento e prevê que pode chegar a 5% ao ano, um percentual baixo para as necessidades da China. "O crescimento econômico que deu legitimidade ao sistema político vai desaparecer", disse, indicando que a dúvida é sobre o ritmo (mais ou menos acelerado) de um menor ritmo de expansão.

   Já Andrew Nathan chamou a atenção para a série de eventos no entorno da China e dentro do país que tendem a reforçar as manifestações sociais contra o sistema político chinês. Ele citou, por exemplo, as passeatas estudantis em Taiwan "que não são marginais" e a posição dos chineses de Hong-Kong que não gostam de Beijing. Também destacou a crescente tendência na China à atividade religiosa, principalmente do cristianismo e do budismo. "São diversas as formas de manifestações contra o governo central", reiterou Nathan. O regime, por seu lado, insiste em manter a mesma estratégia e acha que consegue se sustentar nas três "forças" de sempre: no sentimento nacionalista, na homogeneidade da sociedade e na segurança pelo suporte militar.

   Ao fim e ao cabo, o regime estaria dependendo, na opinião de Nathan, do suporte da elite que, segundo Minxin Pei, está insegura quanto ao seu futuro.

   Louisa Greeve, vice-presidente para Ásia, Oriente Médio e Norte da África e dos programas globais no NED, acha "que há mais do mesmo". As táticas do regime em abafar os oponentes não mudaram. Vão desde prisões dos dissidentes até o absoluto controle do trabalho das ONGs e de outras organizações sociais. "Não vejo de onde as mudanças viriam", resumiu Louisa, sem esconder o ceticismo quanto às perspectivas de democratização da China.

   Fonte: Valor Econômico
 

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    O livro “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, é um sucesso de vendas no mundo todo. Muitos o classificam como um livro de “auto-ajuda” e, embora eu mesmo considere desnecessários muitos dos ensinamentos...   (continua)


  •    Digamos que você queira diminuir seus gastos mensais, seja para estancar um desequilíbrio financeiro, seja simplesmente para aumentar a poupança em busca de um desejado objetivo de consumo.   (continua)


  •    Neste mês de maio de 2024, completam-se seis meses do improvável governo de Javier Milei à frente da Argentina, e figurou, inclusive, na capa da Revista Time. A última vez que um argentino estampou a revista foi em 2012, com o Messi, que ganharia a copa do mundo 10 anos depois.  (continua)


  •    Segundo especialista, brasileiros geralmente não entendem a diferença entre poupar e investir, o que é essencial para quem quer ter as finanças saudáveis. Você sabe qual é a diferença entre poupar e investir? Para o planejador financeiro certificado (CFP) Janser Rojo, da Soma Invest, o brasileiro usa esses dois conceitos como se fossem sinônimos, e com isso acaba cometendo grandes erros na sua vida financeira.   (continua)


  •    No mês de fevereiro deste ano, o Índice Nikkei, principal indicador da bolsa de valores de Tóquio, composto pelas maiores empresas japonesas, atingiu (e renovou), seu topo histórico, que havia sido formado em 1989. Sim, o Japão demorou 35 anos para voltar a atingir o nível recorde de...   (continua)


  •   A História acontece nas latitudes. Essa foi a máxima do geógrafo e geoestratégico norteamericano Nicholas J. Spykman (1893-1943), usada para concluir seu entendimento de que os movimentos e processos históricos da humanidade se deram nas regiões de clima temperado do planeta, delegando às outras regiões, especialmente aquelas localizadas na faixa central do globo, um papel secundário no protagonismo do mundo.  (continua)


  •    A concentração no setor bancário americano chegou a níveis extremos. Há hoje 33% mais grandes bancos do que em 2000. De acordo com a Federal Deposit Insurance Corporation, foram 182 fusões e 107 consolidações por ano de 2001 a 2011. O resultado é que os cerca de 37 bancos importantes que existiam em 1990 hoje se resumem a quatro grandes: ...   (continua)


  •    Enquanto todos ficam de olho na Europa, dados recentes mostram que economia chinesa continua desacelerando. As importações e exportações de produtos processados vem desacelerando bastante, em função da redução da atividade nas principais economias do globo. O consumo de energia desacelerou bastante, a exceção do setor de serviços. Tal consumo indica que PIB possa estar andando a 7 ou 6% aa.   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília